Municípios serão capacitados sobre uso do biogás e gestão do lixo
2005-04-20
Os duzentos maiores municípios das cinco regiões do
País poderão participar de oficinas sobre o edital
lançado pelos ministérios do Meio Ambiente e das
Cidades para estudar a viabilidade do uso do gás
emitido por aterros sanitários e lixões em troca de
créditos de carbono. A capacitação ocorrerá nos dias
26/04, em Recife (PE), 28/04, em Brasília (DF), e 29/04, em
Guarulhos (SP). Para participar das oficinas, as
cidades interessadas deverão enviar inscrição para o
e-mail mdlresiduos@cidades.gov.br ou para o fax (61)
321-1462.
Os ministérios do Meio Ambiente e das Cidades
realizaram nesta terça-feira (19), com apoio do Banco
Mundial, uma videoconferência para esclarecer dúvidas
de dirigentes municipais de todo o País sobre o
edital. Com exceção de Macapá (AP), que enfrentou
problemas técnicos, o debate foi transmitido para
todas as capitais do país e também pôde ser
acompanhado pela Internet.
O edital tem como foco os maiores municípios
brasileiros, com mais de 118 mil habitantes e que
concentram 51% da população. Essas cidades geram todos
os dias 96 mil toneladas de resíduos, cerca de 64% do
total produzido no País. Com o edital, serão
selecionados cerca de trinta entre os 200 maiores
municípios para estudos sobre o possível uso do gás de
aterros e lixões em troca de créditos de carbono.
O biogás poderia ser usado para geração de energia,
por exemplo. Essa operação é prevista pelo MDL -
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de
Kyoto. — A questão dos resíduos no Brasil é muito séria
devido aos custos de tratamento e destinação do lixo e
também pela baixa capacidade de gestão de aterros e
lixões, disse o secretário-executivo do Ministério do
Meio Ambiente, Claudio Langone, que participou da
videocoferência.
A escolha das cidades será feita em duas etapas. Na
primeira, os 200 maiores municípios poderão protocolar
a documentação exigida pelo edital no Ministério das
Cidades, entre os dias 9 e 19 de maio. Em seguida,
serão definidos cerca de trinta municípios onde
consultorias contratadas pelo Ministério das Cidades
realizarão os estudos. O resultado da seleção será
divulgado no dia 8 de junho. Terão prioridade os
municípios que ainda usam lixões ou aterros pouco
adequados do ponto de vista ambiental e social. Os
estudos serão financiados pelo governo japonês, que
deverá doar US$ 979 mil (US$ 600 mil, em 2005, e US$
379 mil, em 2006).
Além de estudar o potencial dos maiores municípios
brasileiros para acessar o mercado de créditos de
carbono, o objetivo do governo é fazer com que o
edital e as capacitações estimulem um debate e
auxiliem a melhorar a gestão dos resíduos, levando à
redução do número de lixões, à inclusão social dos
catadores e à promoção de soluções sustentáveis para o
problema do lixo.
Com a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto,
estima-se que o mercado global de créditos de carbono
atinja US$ 10 bilhões nos próximos anos. O Brasil
participa do mercado de créditos de carbono desde
junho de 2004, após a aprovação de dois projetos, um
em Salvador (BA) e outro no Rio de Janeiro (RJ), ambos
para geração de energia a partir do biogás produzido
em aterros sanitários. — O Brasil precisa estar
preparado para responder por parte significativa desse
mercado, disse Langone.
Entre dezembro de 2001 e abril de 2004,
foi realizada uma ampla pesquisa sobre o potencial
para produção de energia e redução da poluição com o
uso do biogás gerado por aterros sanitários e lixões
no País. O trabalho foi encomendado pelo Ministério do
Meio Ambiente e conduzido pela Esalq - Escola Superior
de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP - Universidade
de São Paulo.
O estudo mostrou que os municípios com mais de um
milhão de habitantes, que produzem mais lixo,
apresentam maior potencial para gerar eletricidade e
receber créditos a partir dos aterros. Em um cenário
otimista, o Brasil poderia gerar, até 2015, 440 MW de
energia, por exemplo, usando um gás que hoje é lançado
na atmosfera. O mercado de créditos de carbono é
estimado em até US$ 10 bilhões nos próximos anos.
Entre os gases que agravam o efeito estufa e
contribuem para o aquecimento global, destacam-se o
dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4). Este último
é o principal gás produzido pela decomposição do lixo
em aterros e lixões. No Brasil, o tratamento dos gases
em aterros sanitários é praticamente todo feito com a
queima do metano e liberação do dióxido de carbono na
atmosfera. No entanto, nos cerca de quatro mil lixões
espalhados pelo País, os gases gerados são liberados
no meio ambiente, aumentando a poluição e reduzindo a
qualidade de vida das populações.
Também participaram da videoconferência, na sede do
Banco Mundial, em Brasília (DF), o secretário de
Qualidade Ambiental, Victor Zveibil, e o diretor de
Gestão Territorial do Ministério do Meio Ambiente,
Rudolf Noronha, além de representantes do Ministério
das Cidades e do Banco Mundial. (MMA, 19/04)