Estudo detecta alta concentração de metais pesados na Lagoa Rodrigo de Freitas
2005-04-20
Um estudo divulgado ontem (18/04) pela Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Assembléia Legislativa (Alerj) mostra que esgoto não é o único problema ambiental da Lagoa Rodrigo de Freitas. O estudo, feito em parceria com o Departamento de Oceanografia e Hidrologia da Uerj, detectou nos sedimentos a presença de metais pesados como cobre em concentrações até cinco vezes maiores do que as permitidas por padrões internacionais. A presença de hidrocarbonetos como o benzopireno — altamente cancerígeno — também foi encontrada em limites acima do tolerável.
Deputado propõe que postos ajudem a pagar dragagem
Apesar de os resultados terem sido considerados um alerta, o deputado Carlos Minc, presidente da Comissão de Defesa do Meio Ambiente, disse que serão necessários estudos complementares para detectar se a fauna da Lagoa está sendo afetada. Segundo o engenheiro químico José Roberto Araújo, que participou do estudo, dificilmente os peixes e crustáceos estão contaminados, mas a comprovação só sairá em cerca de dois meses, quando será concluída a próxima fase da pesquisa.
— Hoje em dia praticamente não há oxigênio no fundo da Lagoa, o que dificilmente permite o desenvolvimento de organismos que servem de alimento para os peixes. Mas, a partir do momento em que a água da Lagoa for renovada, a possibilidade de contaminação da fauna aumenta — afirmou o engenheiro.
O deputado Carlos Minc disse que pedirá à Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema) que reforce a fiscalização dos postos de combustíveis situados no entorno da Lagoa e nos bairros próximos. Segundo ele, o lançamento de restos de óleos lubrificantes pode estar relacionado à presença de hidrocarbonetos e metais pesados nos sedimentos.
— Vamos ainda pedir à Feema que proponha aos donos dos postos de gasolina um termo de ajustamento de conduta para que eles passem a colaborar financeiramente com a dragagem da Lagoa, o que pode minimizar sensivelmente o problema — completou Minc.
Para Feema, estudo reflete despejos do passado
Entre os metais pesados encontrados, o cobre apresentou um índice cinco vezes maior do que o padrão aceitável. Chumbo, zinco e níquel tiveram índices pouco mais de três vezes acima do permitido, segundo o padrão adotado nos EUA e no Canadá, referência no estudo. No caso dos hidrocarbonetos como o pireno, o número chegou a seis vezes acima do tolerável, na medição feita na altura da Fonte da Saudade. O benzopireno apresentou índices acima de três vezes o ideal.
A presidente da Feema, Isaura Fraga, informou que há pelo menos dois anos os postos de combustíveis do entorno da Lagoa não fazem mais troca de óleo lubrificante e são vistoriados periodicamente para verificar se estão de acordo com as regras ambientais. Segundo ela, a análise dos sedimentos não revela a realidade atual do despejo na Lagoa, mas sim uma série histórica: — Por esta análise, é leviano afirmar que hoje há lançamento de metal pesado na Lagoa além dos padrões desejados. Uma amostra de sedimento revela o que ficou acumulado no mínimo durante os últimos seis anos. (O Globo 19/04)
Cartão-postal manchado por desastres ambientais
O último caso de mortandade na Lagoa Rodrigo de Freitas aconteceu em janeiro (2005), quando mais de 21 toneladas de peixes mortos foram retirados. Segundo a Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (Serla), a mortandade foi provocada pelo acúmulo de peixes e pela alta temperatura da água, por volta de 30 graus. O fenômeno, comum na época do carnaval (repetiu-se em 2000, 2001 e 2002), deu uma trégua no ano passado, quando houve mortandade apenas na Lagoa de Marapendi, na Barra da Tijuca. O Ministério Público estadual entrou com pedido de liminar contra o município para que fosse retomado o núcleo de gerenciamento ambiental. Com a medida, a Serla, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), a Fundação Estadual de Engenharia de Meio Ambiente (Feema), a Fundação Rio Águas e a Secretaria Municipal do Meio Ambiente teriam a mesma responsabilidade na fiscalização da Lagoa.
Em maio do ano passado, cerca de 320 litros de piche caíram na Lagoa, em frente ao Parque do Cantagalo. O produto, que estava sendo utilizado nas obras de recuperação da ciclovia, realizadas pela Secretaria Municipal de Obras, foi levado para a água devido à chuva e à elevação do nível da Lagoa. O óleo atingiu o manguezal, mas não chegou a haver mortandade de peixes nem de crustáceos. (JB 19/04)