(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2005-04-20
Por Zoltán Dujisin

Passaram-se 20 anos desde o acidente na central nuclear ucraniana de Chernobyl, o pior da história, mas as feridas não cicatrizam. O desastre continua presente com sua incessante carga de mortes e enfermidades. Entretanto, um punhado de antigos moradores de Chernobyl se mostram decididos a voltar para suas casas e viver o mais normalmente possível nessas áreas contaminadas.

No dia 26 de abril de 1986, aconteceu uma explosão no quarto reator da Usina Nuclear Chernobyl, no norte da Ucrânia, seguida de um incêndio que liberou grandes quantidades de pó radioativo. As autoridades primeiros cuidaram de controlar o fogo, mas deixaram de lado os moradores próximos da usina, que durante quatro dias careceram de toda informação sobre a catástrofe.

Depois que o governo da hoje dissolvida União Soviética – da qual a Ucrânia fazia parte – admitiu o desastre, foram evacuados 150 mil habitantes das cidades e povoados próximos. A população de Pripiat, principal cidade da região, teve a impressão de que logo voltaram para suas casas. Estavam errados.

Hoje, o entorno urbano que outrora abrigava 47 mil pessoas é um povoado fantasma, edifícios e ruas vazias invadias pela vegetação que avança incessante. As casas, bibliotecas, escolas e recintos esportivos e de recreação nessa cidade erguida nos anos 70, considerada modelo de urbanização socialista, desde então não recebem mais visitas que não as de saqueadores, cientistas e turistas aventureiros.

Entrar na escola local faz correr um suor frio pelas costas do visitante: escritórios desordenados, pianos apodrecidos, livros abertos e máscaras antigas espalhadas pelo chão. Há quase 20 anos que ninguém toca nada no local. A maioria dos moradores de Pripiat estava de uma ou outra maneira envolvida com a usina nuclear. Sua maior infelicidade foi estar apenas a um quilômetro de distância. Pripiat nunca verá vida humana permanente no futuro.

Mas, mais distante da central, ainda dentro da área de restrição estabelecida pelo governo em um raio de 30 quilômetros a partir da antiga usina, alguns aposentados ocupam suas antigas casas para economizar com moradia. São ocupações ilegais, mas o Estado vira o rosto. Não são, certamente, povoados florescentes. A idade média de seus habitantes é de 68 anos. A maioria vive sozinha em difíceis condições materiais, cercados de casas vazias e gente estranha. Em geral, são indiferentes quanto o risco da radiação.

–Alguns especialistas consideram que permitir o traslado em massa de pessoas foi um erro, disse à IPS Evhen Golovakha, subdiretor do Instituto de Sociologia da Academia de Ciências da Ucrânia. –Aqueles que vivem em seus lugares de origem se sentem melhor do que aqueles que não, explicou. O diretor do Centro de Conhecimento Social, Yuri Privalov, concorda que não é fácil mudar-se desses lugares, devido às complicações da adaptação a uma comunidade com cultura e até idioma diferentes. Mas, o fator econômico é determinante, disse Privalov á IPS. –Eles perderam tudo, o governo não pôde encontrar trabalho para eles e, então, se viram sem condições de cobrir todos seus gastos, afirmou.

Priapat e seus arredores se assemelham a um cenário pós-apocalíptico, mas, a antiga usina nuclear está em efervescente atividade. Cientistas, engenheiros e operários andam pelas instalações usando simples uniformes, ao que parece indiferentes à ameaça radioativa. Uma de suas preocupações é o possível fechamento definitivo da central, que ameaça seus salários superiores à média ucraniana. O governo fechou o último reator em funcionamento em 2000, obrigado pela intensa pressão internacional. A atividade na usina se limita hoje a manter o sarcófago de concreto que cobre as ruínas da explosão. A radiação não é tão intensa hoje, mas a precariedade da estrutura levou o governo a aprovar a construção de um novo confinamento, mais seguro, em torno do velho bloco de concreto.

O projeto já começou, mas o custo total é de US$ 1,091 milhão, disse á IPS Igor Vasilevich, do Ministério de Combustível e Energia. –As doações de países industrializados estão longe de serem suficientes, acrescentou. A maioria das gestões do governo se referem ao aumento da segurança nuclear. Mas, Chernobyl tem, também, uma dimensão social. A Ucrânia teve de suportar dois traumas devido à catástrofe. Um, o que ocorreu imediatamente após a explosão, o segundo, quando os meios de comunicação informaram sobre suas conseqüências. Calcula-se que cerca de seis milhões de pessoas foram afetadas, de uma maneira ou de outra.

Alguns especialistas garantem que nunca será possível estabelecer um cálculo nem mesmo próximo da quantidade de mortes causadas pelo desastre. As estimativas indicam que, como conseqüência imediata da explosão, morreram entre 40 e alguns milhares de pessoas. Os problemas de saúde persistem. O mais dramático é o dos chamados meninos de Chernobyl, que crescerem em áreas contaminadas e hoje sofrem de câncer de tireóide. Muitas mais pessoas tiveram de lidar com problemas psicológicos. O não-governamental Centro de Iniciativas Democráticas indicou que, 10 anos depois do desastre, 60% dos afetados associavam o alimento com o medo, e sofriam de insônia, irritabilidade e sensação de desamparo, enquanto 30% perderam o interesse pela vida.

Para essas vítimas, o desastre significou a ruína de sua visão do mundo, seus estilos de vida e de seus planos, diz o informe. A maioria dos que conseguiram um novo lar derrotaram, com o tempo, esse sentimento, mas, outros foram deixados de lado. Yuri Privalov admite que as vítimas necessitam de mais assistência, mas, também, que não se pode fazer muito. –É difícil dizer o que se alcançaria, pois não há situações similares para fazer a comparação. Há muitas demandas ao Estado, muita gente enferma, uma usina desativada e a contaminação. O país é pobre e os problemas persistirão, lamentou. (IPS/Envolverde)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -