Dirceu repete discurso da ditadura, diz físico
2005-04-19
O físico e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, José Goldemberg, disse que o ministro José Dirceu repete a argumentação do regime militar ao defender a energia nuclear como estratégica para o país. — O único argumento que José Dirceu usou até agora é que é estratégico. Esse é exatamente o argumento dos militares. A linguagem que os militares usavam é que eles iriam desenvolver energia nuclear para fins pacíficos e talvez então pensar em armas. Então, acho que o José Dirceu está repetindo o argumento.
Considerado um dos maiores especialistas em energia do país, Goldemberg, ex-secretário nacional de Ciência e Tecnologia e ex-ministro da Educação, é crítico do uso da tecnologia nuclear para geração de eletricidade. Para ele, energia nuclear em grande escala não só não faz sentido técnico e ambientalmente como também é erro econômico e estratégico. A opinião é compartilhada pelos ministérios de Minas e Energia e do Meio Ambiente.
A sugestão de que o desenvolvimento da tecnologia nuclear ajudaria o Brasil a conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU também é considerada sem fundamento pelo secretário. — Ao contrário, a posse de armas nucleares é motivo de discriminação.
Sobre a usina de enriquecimento de urânio em Resende (RJ), disse que claramente não se justifica economicamente. — Uma usina de enriquecimento de urânio de grande porte custa US$ 800 milhões. A carga de urânio para um reator do tipo Angra 2 ou 3 custa US$ 12 milhões por ano. Quer dizer, você iria fazer investimento de US$ 800 milhões para economizar US$ 12 milhões por ano.
Ex-presidente da Eletrobrás, o físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio, disse ser contrário à instalação de Angra 3. Primeiro, diz, é preciso solucionar o passivo ambiental e financeiro de Angra 1 e 2. (Folha de S.Paulo, 16/04/2005 )