Documentário mostra floresta que pode ser alagada por Barra Grande
2005-04-19
Em outras terras, ou aqui mesmo, mas em outros tempos, é provável que documentaristas e telejornais estivessem agora metidos numa disputa pelo direito de mostrar em primeira mão a história que a catarinense Miriam Prochnow tem para contar. Mas, sendo o país o que é neste momento, foi ela mesma que apurou, escreveu, narrou, legendou e musicou pessoalmente os 14 minutos do filme Barra Grande.
Ela mesma – aquela hidrelétrica que cravou no rio Pelotas uma barragem com 190 metros de altura, graças a um relatório de impacto ambiental onde se omitia o estrago que a represa faria em florestas de araucária e campos naturais, na fronteira do Rio Grande do Sul. A novela tem saído neste site desde setembro quando a fraude, levada à Justiça pela própria Miriam e outras ONGs ambientais, veio à tona. E ainda não tem fim à vista, graças à teimosia de Miriam que, além do filme, lança esta semana oito mil exemplares de um livro de 130 páginas sobre a usina de Barra Grande, com notícias e documentos sobre o processo. Vem a tempo de pegar a reunião, marcada para esta semana, em que o Ibama, o Ministério Público Federal, o Ministério do Meio Ambiente e o das Minas e Energia discutem mais uma vez quando sai a licença de operação da hidelétrica.
Com ela, começa de uma vez por todas o alagamento das últimas e preciosas manchas de mata de araucária na região, diz o vídeo. E daí? Daí que, quando isso acontecer, se acontecer, ao longo de 100 quilômetros do rio Pelotas irá por água abaixo um vale verde, muito verde, encaixado entre os dois estados. Nesse caso, como os meios de comunicação deram pouca trela a essa história toda, serão raridades iconográficas as imagens desse documentário amador. Ali estão provavelmente as únicas lembranças de uma paisagem rara, quase extinta no país, onde está confinada a 2% do território nacional. Os brasileiros estão perdendo a mata de araucária sem exercer sequer o direito de se despedir dela antes do fim.
Só isso bastaria para tornar recomendável, senão obrigatória, a exibição do vídeo de Miriam Prochnow numa grande emissora de TV. Ele não deixa de ser um filme de catástrofe. Mas ninguém espere prodígios técnicos nem efeitos especiais dessa produção da Apremavi, a ONG de Miriam Prochnow, nascida de um pacto ambiental com pequenos agricultores da serra catarinense e instalada numa casa de madeira no canto do terreno da família. (O Eco, 18/04)