Os tigres estão sumindo e podem ir à extinção na Índia
2005-04-19
Os safáris de jipes pelas selvas da Índia perderam a graça: a atração principal, os tigres, sumiu. No parque nacional de Sariska, um dos locais mais visitados do país, os turistas não encontram um só tigre desde junho do ano passado. Mais do que uma ameaça ao turismo, esse sumiço sinaliza uma catástrofe ecológica. O parque de Sariska era um dos últimos refúgios dos tigres na Índia, país que abriga quase a metade dos exemplares da espécie no mundo. O local foi criado no início dos anos 70 pela então primeira-ministra Indira Ghandi como parte de um projeto destinado a evitar a caça indiscriminada a esses animais. A princípio, o programa foi um sucesso. Em 1972, havia 1.800 tigres na Índia. Uma década depois, o número subira para 4.000. Hoje, segundo os ambientalistas, restam menos de 2.000 tigres em território indiano. Caso esse ritmo se mantenha, a espécie será extinta ainda nesta década. Para os indianos, isso significaria o desaparecimento de um dos símbolos nacionais. Para o mundo, seria uma perda irreparável.
– O número de guardas para fazer a patrulha nos parques indianos é pequeno e as leis de proteção, embora rigorosas, não são cumpridas, disse a VEJA Mahendra Shrestha, diretor da National Fish and Wildlife Foundation, ONG sediada em Washington. Diante dessa situação, os caçadores clandestinos não se intimidam. Um tigre morto e dividido em partes pode render até 50.000 dólares. Os principais clientes são os chineses, que fabricam uma série de medicamentos com o animal. Os ossos são a parte mais valorizada. Por superstição, eles atribuem aos ossos de tigre poderes antiinflamatório e analgésico, a capacidade de combater reumatismo e contusões e até de evitar derrame. Os testículos são apreciados à mesa como iguaria afrodisíaca.
– O uso de partes de animais na medicina chinesa, a opoterapia, é um costume já arraigado na cultura do país há muito tempo e seria difícil extingui-lo de uma hora para outra, explica Jou Eel Jia, da Associação de Medicina Tradicional Chinesa no Brasil. A pele do tigre, por outro lado, se transforma em vistosos casacos e tapetes. Para preservá-la, os caçadores na Índia têm usado uma nova arma letal: armadilhas que disparam choques elétricos de altíssima voltagem. No século passado, três subespécies de tigres sucumbiram aos caçadores e foram consideradas extintas: os tigres da Cáspia, de Java e de Bali. Hoje, há cinco subespécies sobreviventes, entre elas o tigre-de-bengala, a que pertence a maioria dos espécimes indianos. Infelizmente, tudo indica que será a próxima vítima. (Veja, 18/4)