(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2005-04-15
Dez dos 11 últimos prefeitos de Corupá são alemão, como diz o pessoal por lá. A cidade poderia se encaixar bem às margens do Reno, mas está bem no Alto Vale catarinense. É limpa, ordeira, quase militarizada na produção de banana. Nos grotões, os descendentes dos colonos alemães enfrentam a dureza sem queixas, até parecem desinteressados da raça humana e despreocupados com o futuro do planeta. Vai daí que quando um grupo de empresários esclarecidos botou o olho gordo nas 14 cachoeiras que irrigam os bananais da Serra do Mar, calculando o quanto de energia elétrica elas poderiam produzir, ninguém se preocupou de contar os planos pros alemão das colônias.

Durante cinco anos, empresários, seus técnicos e alguns políticos inteirados da coisa fizeram cálculos e projetos, deixando os colonos na mais completa ignorância. O plano deles é barrar os rios Bruaca e Vermelho pra erguer uma mini-usina. Ela poderá gerar 15 megawatts, quatro vezes mais do que consome a cidadezinha de 8 mil habitantes. Dá para vender tudo para a Eletrobrás, pagar royalties para a prefeitura e embolsar um bom lucro. Na surdina, os homens criaram a empresa Corupá Energia Ltda., legalmente registrada na Junta Comercial. Com licença ambiental do governo catarinense e alvará da prefeitura de Corupá no bolso, pediram e ganharam do governo federal financiamento com juros de pai pra filho. No final do ano passado estavam prontos para começar a obra. Esta tarefa não foi cumprida antes talvez porque seria como o rato colocar o sino no pescoço do gato: alguém teria que ir dizer nas colônias que queriam tomar-lhes a cachoeira da Bruaca. Mesmo sem GPS, a turma do lugar sabe onde ela fica. É uma queda com 96 metros de altura, escondida no mato, só a vê quem chega perto. Foi na hora de dizer pra turma que a coisa embananou. Em dezembro, quando os primeiros técnicos começaram a medir trilhas nos morros e fotografar bananais, os colonos ficaram inquietos. Aqueles colonos aparentemente alienados começaram a se perguntar como ficariam suas lavouras, como ficariam as terras, como ficaria o futuro de seus filhos. Mostraram-se preocupados com a ecologia, com o ecoturismo, com cada folha de bananeira, com cada gota da água de suas preciosas cachoeiras.Quando os ecologistas botaram a boca no trombone, os colonos já estavam montados num porco. Um ibopezinho informal na cidade e na roça, feito na tarde de 6 de abril, deu 18 votos contra, um a favor e uma abstenção. Na farmácia, na padaria, nos Correios, só dá contra. Na prefeitura, a mais diplomática é Kida Solomon, chefe de gabinete do prefeito, ainda indecisa, como requer seu cargo. É que o próprio prefeito, dizem, está em cima do muro. A secretária alegou falta de tempo, mas o provável é que ele esteja esperando sentir a direção dos ventos.

A presidente da Câmara de Vereadores, Bernadete Hillbrecht, já sentiu de onde ele sopra e radicalizou contra. Ela era secretária de Educação na gestão anterior, cujo prefeito deu o alvará, e não sabia da obra, o que a deixou indignada. Bernadete vai propor legislação específica proibindo a construção da usina, a exemplo do que fez a vizinha Joinville. Embora o tema seja competência da União, as duas cidades podem se beneficiar de uma brecha na lei para regular edificações em áreas de proteção permanente. No mínimo levaria a questão à Justiça por uma década, inviabilizando tudo. No sábado, 2 de abril, um engenheiro da Eletrosul participou de uma reunião com moradores e avisou: -Com a usina a cachoeira vai secar. Se a situação já estava difícil enquanto o povo sabia só da metade da história, imagine-se depois de descobrir que sua querida Bruaca vai sumir. Os ecoxiitas da cidade distribuíram uma foto da cachoeira do rio Piraí, de Joinville, seco depois de represado em 1998, como macabra advertência do que acontecerá. E o clima na cidade esquentou, até porque a colonada das barrancas do rio e das encostas dos morros não é tão desinformada como parecia. Os empresários esclarecidos pisaram na bola quando abriram a boca para defender seu peixe. Primeiro alegaram que a cidade ficaria às escuras. Recuaram quando ficou óbvio que estando no miolo de uma região industrializada como Joinville, Jaraguá e Blumenau, Corupá sempre teria uma linha de abastecimento passando por suas casas. Então mudaram de argumento, atacando o ecoturismo de chinelão. Demonstraram na ponta do lápis que as 20 mil pessoas que freqüentam o lugar por ano gastam em média apenas 20 reais por dia para passar o dia ali, uma insignificância se comparada com a rentabilidade dos royalties que a empresa pagaria à Prefeitura pela energia gerada. O argumento foi como dar um tiro no pé. O povão não gostou de ver o pessoal desfazendo seu cantinho e seu lazer.

O povo já sabia que a cachoeira da Bruaca não é nenhuma Itaipu em tamanho, nem as Cataratas do Iguaçu em beleza, mas é tudo o que ele tem. Ela se desdobra em várias quedas por 30 quilômetros até a cidadezinha bananeira. É garantido: quem sobe, na volta é outro bicho. Muito mais pra natureba que pra defensor de royalties.(O Eco, 11/04)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -