Índios dizem a ministro que querem revitalização da bacia do Rio São Francisco
2005-04-14
Índios das etnias Truká e Tumbalalá disseram hoje ao ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, que o que mais desejam do governo é a revitalização da bacia do Rio São Francisco. Segundo o representante Truká, Mozeni Araújo, os índios querem – revitalizar a bacia com um projeto de drenagem da mata ciliar, reflorestamento dos mananciais, revitalização dos rios mortos e saneamento ao longo de cerca de 266 cidades que jogam seus dejetos no rio.
A representante da etnia Tumbalalá, Maria José Marinheiro, os índios de sua aldeia, no município baiano de Curaçá, e os Truká da região de Cabrobó, em Pernambuco, são contra a integração do rio, mas favoráveis a uma revitalização imediata. – Estamos vendo que o projeto de revitalização vai acontecer, mas poucas pessoas foram consultadas e um impacto ambiental como esse tem que ter uma discussão bem ampla, ressaltou Maria José Marinheiro. Para Mozeni Araújo, a revitalização é o outro lado da moeda do projeto de integração: – Sem uma revitalização, o projeto compromete a vida do rio.
Para os indígenas, que decidiram formar uma comissão com quatro representantes para acompanhar a discussão do projeto, podem ocorrer na região impactos como a diminuição do volume de águas; assoreamento do rio; extinção de espécies de peixes, árvores e aves, além de impactos sociais. Mozeni explica que hoje os índios da região Nordeste já sofrem com os impactos resultantes da criação das hidrelétricas de Paulo Afonso e Sobradinho. – Os lagos formados por essa obra fizeram com que muitas espécies de peixes desaparecessem. Quem vivia da pesca hoje não vive mais, porque algumas espécies não existem mais, lembrou o representante Truká.
A maior polêmica entre índios e representantes do governo, segundo Mozeni Araújo, é sobre a compreensão de que – o rio é como uma vida que deve ser zelada e preservada.
O relatório apresentado pelo Ministério da Integração Nacional já aponta alguns impactos ambientais nas comunidades indígenas por onde passarão os canais previstos no projeto para o São Francisco. E prepara medidas como um programa de apoio às comunidades indígenas; ações de compensação para suprir carências reais desses grupos diante da nova situação que se configurará; divulgação intensiva de programas de saúde, com ênfase para doenças infecto-contagiosas e sexualmente transmissíveis (DST); orientação a técnicos e demais trabalhadores das obras sobre os cuidados a serem tomados quando tiverem contato com as comunidades indígenas; melhoria na sinalização das terras indígenas, para evitar a entrada de pessoas estranhas; e criação de formas de comunicação direta entre os líderes das comunidades e o empreendedor. (O Estado de Minas 12/04)