Zona Sul de Porto Alegre : Polêmica é a ocupação
2005-04-14
A discussão que pipoca na cidade é a mesma: densificação. Mas se na região central a grita é pelo tamanho dos prédios, na Zona Sul a questão é o tamanho dos terrenos. Moradores defendem uma área de 250m² a 300m² por casa. Mas a prática tem sido quatro ou cinco residências nesse tamanho de gleba.
A mudança veio com o novo Plano Diretor, que admite uma economia (casa) a cada 75 m². Por outro lado, a mesma lei chama a região de Cidade Jardim, uma área especial de interesse do ambiente natural. E com isso, a ocupação voltaria a ser 300 m² por residência, garantindo amplas áreas de arborização, dentro dos imóveis.
No meio deste vazio jurídico – ou melhor –, como as áreas especiais do ambiente natural não foram regulamentadas, está se adotando a construção de quatro casas por lote. — O que eles querem é área. Mas isso vai contra a vocação desses bairros e destrói a arborização interna, avalia Nestor Nadruz, arquiteto e coordenador do Movimento Porto Alegre Vive.
O ambientalista Guilherme Dornelles, da Agapan (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural) diz que a especulação imobiliária está igualando a Zona Sul à Zona Norte. — Ipanema está sofrendo a maior agressão. Em dois meses, derrubam a casa, as árvores, colocam um tapume e impermeabilizam todo o terreno, descreve o ecologista.
Outro problema da Zona Sul destacado por Dornelles são os loteamentos clandestinos. — São pessoas de baixa renda que se instalam em áreas de preservação e degradam o ambiente. Depois, o dono pede reintegração de posse e pode construir no terreno. O ambientalista trabalha ainda pela preservação da orla, especialmente no trecho entre o Lami e a Ponta Grossa, que ainda não está construído. “Já tem projetos para esta faixa, mas ela é de preservação do ambiente natural e é área especial de interesse cultural”, ressalta Dornelles.
O caso Loteamento Ipanema
Além de condomínios horizontais, existe preocupação com os projetos especiais na Zona Sul. Um deles é o Loteamento Ipanema, da Maiojama, que prevê vários blocos de 10 pavimentos.
O projeto é antigo e foi travado na Justiça. A questão é a preservação da Mata Atlântica, existente no local, e a canalização do Arroio Espírito Santo. O Poder Judiciário deu parecer favorável ao empreendimento, em decisão apresentada em novembro de 2004, mas a promotora de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, Ana Maria Marchesan, vai recorrer, levando o caso até Brasília.
Moradores se queixam, ainda, da descaracterização que o empreendimento causaria na região. — É um local residencial, antigo, com tradição de casas de veraneio e querem colocar um monte de espigões, explica o ambientalista Guilherme Dornelles, morador da Zona Sul. — Projetos especiais como esse alteram bairros centenários, degradando a zona costeira, diz Marçal Davi, da Tristeza. Ele cita outro empreendimento, na rua Mário Totta, que também é formado por prédios altos, ao invés de casas.
Procurada diversas vezes pelo Ambiente JÁ, a Maiojama não concedeu entrevista, conforme havia prometido o departamento de marketing da empresa construtora. (GK)