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2005-04-12
Algumas das principais organizações não-governamentais atuantes na Amazônia estão se aliando a grandes empresas agrícolas em parcerias pela preservação da floresta. Os acordos partem de uma constatação pragmática: enquanto ambientalistas protestam de um lado e agricultores plantam do outro, pouco se faz para salvar a mata. A certeza de que o agronegócio chegou à região para ficar – e de que seria economicamente suicida lutar contra ele – levou algumas organizações a procurar as empresas para estudar, juntas, os caminhos para conciliar os dois interesses. Para os ambientalistas, os acordos significam uma oportunidade para orientar agricultores na utilização racional das áreas cultiváveis e, ao mesmo tempo, comprometê-los com projetos de recuperação de florestas degradadas. Numa outra direção, também alguns megaempreendedores do campo procuraram ONGs interessados em estabelecer boas relações com os chamados mercados verdes, nos quais valem mais os produtos que tenham selos garantindo a origem ecologicamente correta.

Desde o ano passado, cientistas das entidades Conservação Internacional, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e The Nature Conservancy (TNC) trabalham em quatro frentes independentes, com parceiros distintos. – É reducionista pensar que ambientalista não pode trabalhar com empresário, afirma a bióloga Ana Cristina Barros, representante da TNC no Brasil. Os cientistas da TNC escolheram como parceiro um dos maiores alvos de preservacionistas que combatem a chegada da soja à Amazônia. Juntamente com a multinacional Cargill, estão elaborando modelos para a administração das lavouras com menor impacto sobre a floresta. O trabalho já atinge 200 produtores.

Em Mato Grosso, os cientistas do Ipam fazem pesquisas em uma fazenda do Grupo André Maggi, da família do governador Blairo Maggi, e trabalham no esboço de um protocolo de ações que servirão para avaliar ambientalmente as lavouras e para orientar a expansão agrícola dentro de princípios ecológicos. As pesquisas ajudarão a chegar a um modelo de certificação da soja parecido com o que é planejado pela TNC no Pará. Com o auxílio do Ipam, 500 produtores de soja de Mato Grosso e Rondônia, que vendem a produção para o Grupo Maggi, aprenderão a plantá-la com agressão mínima à floresta.

Para o vice-presidente do Grupo Brascan do Brasil, Renato Cavalini, a aproximação das empresas e das ONGs trará benefício para todos. – Trabalhamos com a vanguarda do ambientalismo, diz Cavalini. O executivo espera que a adoção de práticas chamadas de socioambientais mude a imagem do país no mercado internacional. A Brascan deverá investir 100 milhões de reais até o fim do próximo ano em novas propriedades e em infra-estrutura em Mato Grosso e assumiu o compromisso de inaugurar essas áreas com um modelo sustentável de produção.

– O nosso plano é não cortar nenhuma árvore nativa, afirma o presidente da ONG Aliança da Terra, o pecuarista John Carter, que é dono de uma fazenda de 8.000 hectares no estado. – Como eu nunca precisei desmatar, sei que é possível que os demais trabalhem do mesmo modo. Carter faz parte de um grupo de empresários que negociam com cientistas de organizações não-governamentais a criação de um selo da carne ecologicamente correta. O objetivo, evidentemente, é ganhar novos mercados internacionais.

Em Goiás e em Mato Grosso do Sul, outra multinacional do ramo de alimentos, a Bunge, investe em um projeto com cinqüenta produtores do Parque Nacional das Emas. Com o trabalho dos cientistas da Conservação Internacional, as propriedades foram mapeadas por satélite para a identificação de pontos críticos. A soma das áreas mapeadas e em processo de recuperação é de 250.000 hectares. – O que estamos fazendo é o início de uma espécie de PPP verde, diz Ricardo Machado, diretor do Programa do Cerrado da Conservação Internacional. (Veja, 13/04)

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