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2005-04-07
Por Carlos Matsubara

Um projeto inédito no país está recuperando um dos ecossistemas mais belos do litoral gaúcho. Desenvolvido pela Fundação Universidade Federal de Rio Grande (Furg), através do Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema), o Dunas Costeiras foi iniciado em 1988. Seu foco são ações para preservação e recuperação da vegetação nativa e fauna dos cordões de dunas. Amparado por legislação federal, o cordão de dunas é uma área de preservação permanente. Nessa área, muito sensível à intervenção humana, a vegetação serve de anteparo natural, impedindo que a areia invada campos e banhados, desequilibrando todo o ecossistema da região, com significativa redução na biodiversidade.

Um dos resultados concretos do projeto do Nema pode ser visto no balneário Cassino, no Litoral Sul do Estado, onde a recuperação das dunas foi um sucesso. Ali foi aplicada uma técnica chamada galhação, que consiste em colocar centenas de galhos nas areias para sustentação da vegetação. Outra medida foi o fechamento dos acessos à praia, deixando apenas os estratégicos, onde o pisoteio não é prejudicial. O ponto alto, que mereceu festa de inauguração em setembro de 2003, foi a implantação de passarelas por cima das dunas. A obra foi feita toda em madeira de eucalipto e tem 150 metros de comprimento por dois metros de largura. O custo saiu em torno de R$ 87 mil. — A passarela segue a estrutura das dunas e evita a perda de biodiversidade, além de propiciar uma trilha educativa, explica Kléber Grübel da Silva, oceanólogo e técnico-executivo do projeto, que garante inclusive ser possível até mesmo observar o tuco-tuco, (ctenomys flamarioni) pequenino roedor típico das dunas e considerado em risco extinção. — Além de dezenas répteis, anfíbios, duas espécies de aves marinhas --maçarico-de-colar e ostreiro - e centenas de insetos.

Veranistas aprovam
O exemplo do Cassino tem rendido frutos, mesmo que pequenos em comparação com os mais de 600 quilômetros do litoral do estado. Na temporada passada mais três municípios do Litoral Norte investiram em passarelas - Tramandaí, Torres e Atlântida. A psicóloga Luciana Alcântara aprovou a novidade. Segundo ela, ficou mais fácil deixar a orla com os filhos Lucas, 18 meses, e Vanessa, cinco anos. — Está uma maravilha, é bem melhor cruzar nas passarelas diz Luciana. De acordo com geólogo da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Nilo Barbosa, os arcos erguidos diminuem o tráfego de turistas sobre as dunas e contribuem para a proliferação da extensa teia de raízes produzida pela vegetação, ajudando a fixar a areia.

A atividade executada pelo Nema é o replantio da vegetação. Os técnicos coletam espécies na época de floração, como o capim-salgado (spartina filiata) e a margarida das dunas (senecio Krassiflorus). Essas mudas são colocadas em viveiros para depois serem replantadas em locais estrategicamente escolhidos. — Esse replantio é de cunho educativo, porque a grande revegetação acontece naturalmente quando há preservação, ensina o executivo do projeto que conta com o apoio do Fundo Nacional de Meio Ambiente, da Prefeitura de Rio Grande, Fundação O Boticário e da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema).

Embora seja aplicável em qualquer ponto do litoral brasileiro, desde que observadas as características do local, o projeto ainda não decolou totalmente no próprio Estado. — Absolutamente por falta de respostas positivas dos executivos municipais, lamenta Cleber Silva. As dunas gaúchas enfrentam problemas como a mineração clandestina, o depósito de lixo e os loteamentos desordenados. A situação no litoral norte é a mais delicada. Há anos sofre de forte especulação imobiliária e de um crescente aumento de favelas, principalmente de Imbé até o balneário de Pinhal, mais popular e abandonado. Durante o verão esse trecho é o mais procurado por veranistas e a situação das dunas é precária, isso quando elas ainda existem. Os pesquisadores alertam também para a situação da praia do Hermenegildo. Lá as construções foram feitas exatamente em cima das dunas. — É um exemplo de como não deve ser feito.

Invasão bovina
Como se já não bastassem todos esses problemas, o rebanho bovino vem representando uma nova ameaça a esse ecossistema. Por falta de alimentação, o gado tem invadido as praias do Litoral Sul em busca de pastagem. A presença inusitada preocupa os ambientalistas porque os animais arrasam a vegetação do cordão de dunas. De acordo com o oceanólogo César Cordazzo, do Laboratório de Ecologia Vegetal Costeira da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), a pecuária é, historicamente, uma das principais fontes de renda de quem vive no litoral. Entretanto, décadas atrás o número de bovinos era pequeno, permitindo a recuperação gradativa das plantas. — Hoje, o pastoreio sobre a vegetação das dunas é mais intenso porque parte das áreas utilizadas antes como pastagem agora é ocupada por plantações de pinus. O solo no local não tem grande disponibilidade de nutrientes, e a flora tem dificuldade de se recompor, diz.

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