Milho transgênico comercializado acidentalmente causa escândalo
2005-04-06
A revista científica Nature publicou, na última quinta-feira (31/03), que o milho Bt10, comercializado acidentalmente durante quatro anos pela multinacional Syngenta, tem diferenças significativas com relação ao milho Bt11, principalmente na presença de genes de resistência a antibióticos. Centenas de toneladas de sementes do milho transgênico inseticida Bt10 foram cultivadas devido a um erro da empresa, que acreditava estar comercializando sementes do milho Bt11.
O milho inseticida Bt11 recebeu autorização para plantio e comercialização em 1996, nos Estados Unidos, mas a variedade Bt10 não foi avaliada nem autorizada pelas autoridades norte-americanas. No dia 24 de março, quando o escândalo foi publicado na Nature, a empresa declarou que as duas variedades de milho não apresentavam diferenças significativas na sua estrutura genética.
–Se a própria Syngenta, que é a proprietária da tecnologia, comercializou ilegalmente durante quatro anos uma planta transgênica sem perceber o erro grosseiro, imagine os graves acidentes que poderemos sofrer com áreas experimentais espalhadas pelo país com uma fiscalização deficiente, ponderou Ventura Barbeiro, engenheiro agrônomo do Greenpeace. Segundo Barbeiro, por meio da polinização, genes experimentais podem escapar de áreas de pesquisa e contaminar a produção comercial.
De acordo com a Nature, apesar de pequena, a possibilidade desse gene ser transferido para microorganismos e espalhar problemas de resistência a antibióticos existe. Os microorganismos que naturalmente estão presentes no intestino e no meio ambiente podem incorporar o gene de resistência a antibióticos do alimento transgênico e tornar-se uma doença de difícil controle.
O milho transgênico Bt11 apresenta resistência a insetos, devido à produção de proteínas tóxicas de bactéria. A planta recebeu genes do vírus do mosaico da couve flor e das bactérias Bacillus thuringiensis, Streptomyces viridochromogenes e Agrobacterium tumefaciens. O milho Bt10, além desses genes, também possui um gene que confere resistência ao antibiótico ampicilina. A Autoridade de Segurança Alimentar da União Européia publicou em abril de 2004 regras restringindo plantas com genes de resistência a antibióticos apenas para áreas experimentais, vetando o uso comercial desse tipo de organismo.
–Esse escândalo deverá aumentar ainda mais a falta de confiança dos consumidores nos responsáveis pela autorização e fiscalização dos organismos geneticamente modificados, disse Barbeiro. –Essa é a segunda vez que o milho norte-americano é envolvido em um escândalo de contaminação com transgênico não autorizado, completou. No ano de 2000, o milho transgênico StarLink, da empresa Aventis, liberado apenas para alimentação animal, contaminou a produção de milho dos Estados Unidos obrigando a retirada de vários produtos da prateleiras dos supermercados e dificultando as exportações.
(EcoAgência, 3/4)