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2005-04-04
Substâncias derivadas de um quarteto improvável da fauna brasileira -jararaca, cascavel, carrapato-estrela e uma espécie de taturana- vão ser alvo de investimentos da ordem de R$ 10 milhões nos próximos dois anos. Mais da metade do dinheiro virá de um consórcio da empresas farmacêuticas nacionais, e a idéia é criar novos medicamentos contra hipertensão, dor e câncer totalmente desenvolvidos no país.

O anúncio foi feito no dia 31 de março, em São Paulo, por representantes do Coinfar (consórcio que reúne as empresas Biosintética Farmacêutica, Biolab-Sanus e União Química) e do Instituto Butantan, principal órgão de pesquisa envolvido no desenvolvimento dos remédios. Se alguma das novas moléculas chegar ao mercado (o que ainda deve demorar vários anos, já que nenhuma ainda passou da fase de testes em animais), cerca de 5% dos lucros serão repassados ao instituto, aos cientistas-chefes de cada projeto e à Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que também apóia os estudos.

Os projetos já geraram pelo menos quatro patentes (uma delas, referente ao veneno de jararaca, provavelmente vai se desdobrar em outras seis ou oito patentes), registradas no Brasil, nos EUA, no Japão e na União Européia. – Essas moléculas não são garantia de sucesso. Não sabemos se elas vão funcionar em seres humanos, se serão viáveis economicamente ou mesmo se serão capazes de enfrentar a concorrência, ressalva Dante Alário Júnior, diretor técnico-científico da Biolab-Sanus.

A história de diversos medicamentos de sucesso, no entanto, mostra que derivar remédios de substâncias encontradas em animais costuma compensar. – Temos a vantagem de lidar com moléculas que foram testadas pela evolução por bilhões de anos para agirem de forma específica, disse à Folha o bioquímico Antonio Carlos Martins de Camargo, diretor do Centro de Toxicologia Aplicada do Butantan. É o caso do Captopril, medicamento derivado do veneno da jararaca que hoje é um dos principais a combater a hipertensão e que foi patenteado por uma empresa multinacional.

O valor normalmente estimado para desenvolver um único medicamento é de US$ 60 milhões. Marcio Falci, diretor médico-científico da Biosintética, reconhece que o investimento de R$ 10 milhões é pouco. – É pouco para o desenvolvimento total, mas vamos ajustando isso conforme o trabalho progredir, afirma. Do montante, R$ 4 milhões virão da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, órgão federal). (FSP 01/04)

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