Interditado depósito de óleo cancerígeno
2005-04-01
Agentes da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente interditaram ontem de manhã um depósito na Via Dutra, na altura de Comendador Soares, em Nova Iguaçu, com cerca de 300 mil litros de ascarel, um óleo cancerígeno cuja produção é proibida no país desde 1985. Ao todo, havia cinco mil tonéis de 50 litros e outros 250 de 200 litros do produto num galpão que pertence à firma paulista Company Electric, que funcionava sem alvará da prefeitura.
O lugar foi descoberto após uma denúncia recebida pelo deputado Carlos Minc (PT), presidente da Comissão de Meio Ambiente da Alerj. Segundo o parlamentar, o local recebia ascarel usado em indústrias do país inteiro para ser incinerado nos fornos da Bayer, em Belford Roxo. Ele disse que havia tonéis estocados no depósito há mais de quatro anos.
— O ascarel é altamente resistente à combustão, agüentando até os 1.400 graus centígrados, e por isto era usado para revestimento de transformadores de energia, por exemplo. E, por ser cancerígeno, a sua destruição é feita por incineração, o que não aconteceu nessa empresa, que não tinha permissão para armazená-lo — explicou Carlos Minc.
Ex-funcionários têm sintomas de contaminação
A polícia localizou cinco ex-funcionários da firma que apresentam sintomas compatíveis com os males provocados pelo ascarel, como cefaléia, distúrbios no sistema nervoso, perda de audição e de visão e câncer. De acordo com eles, o produto era manuseado sem roupas de proteção.
— O ascarel pingava quente sobre a gente, queimando a pele, quando o drenávamos dos tonéis. Tenho manchas no corpo, minhas pernas ficam inchadas e sinto coceira — disse Marcos Antônio da Costa.
Colega dele, Francisco José da Silva contou que o grupo buscava o ascarel em São Paulo, no Ceará, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina:
— Hoje, depois de seis anos trabalhando lá, sinto dores no fígado quando como, na nuca, na vista e tenho tosse constante.
A polícia procura os donos da empresa, que serão indiciados na Lei 9.605, de crimes ambientais, por poluição e armazenamento ilegal, podendo ser condenados a até nove anos. (O Globo 31/03)