Plantio florestal: desenvolvimento econômico versus meio ambiente em debate
2005-04-01
Débora Cruz
Apresentados como garantia de bons negócios, os projetos que envolvem o plantio de eucalipto, pinus e acácia – financiados pelo governo do Rio Grande do Sul e apoiados pela iniciativa privada – vem seduzindo grandes e pequenos produtores gaúchos. Por outro lado, a idéia de cultivar um único tipo de árvore numa grande extensão de terra desagrada os ambientalistas. Eles alegam que a proposta de reflorestar 1 milhão de hectares - 5% da área do Estado - sem um estudo prévio de impacto ambiental pode provocar prejuízos graves para a biodiversidade gaúcha.
Para o agrônomo e consultor da Caixa RS, Floriano Isolan, o RS vive uma fase promissora no setor de reflorestamento, que inclui incentivo governamental, potencial de mercado e disponibilidade de terras para o plantio. Ele participou na tarde do dia 30/03, em Porto Alegre, do seminário Reflorestamento e Desenvolvimento Sustentável, evento promovido pelo Ambiente Já no Centro de Eventos do Hotel Plaza São Rafael. Entre as vantagens do reflorestamento para a economia, ele cita a possibilidade de criação de novos empregos como um dos principais pontos positivos. Em resposta à oposição dos ambientalistas, o consultor afirma que, embora parte das críticas sejam verdadeiras, não é correto dizer que a questão ambiental não está sendo levada em conta: – Quem mais cuida, mais gasta com o meio ambiente são as empresas de reflorestamento, afirma.
Isolan, além de consultor, é um médio produtor rural. Numa área de 30 hectares nas proximidades do município de Estrela (RS), cultiva eucalipto e acácias. Agora, seu plano é expandir o negócio: vai plantar 40 hectares de eucaliptos em Arroio do Sal, no litoral gaúcho. Quanto ao aspecto ambiental, ele garante que tudo está sendo feito de acordo com a cartilha do ambientalmente correto: – Já preparei o solo e não derrubei um graveto, assegura.
Com a pretensão de transformar a configuração econômica da Metade Sul do Estado, os projetos de reflorestamento irão, inevitavelmente, mudar a biodiversidade do Pampa. Esta é a opinião dos ambientalistas. Segundo a agrônoma da ong Núcleo Amigos da Terra, Carla Villanova, muitos pecuaristas estão deixando de lado sua atividade tradicional para aderir à nova promessa de lucro. Para ela, o aspecto sustentável dos projetos não tem recebido a devida atenção. – Por que, ao invés de apostar numa atividade cujos impactos ambientais ainda não são conhecidos, o governo não aplica toda a verba que está sendo destinanda ao reflorestamento para recuperar a pecuária? – questiona. Em relação à geração de empregos, a ambientalista não está convencida de que a nova moda irá criar o número de vagas prometido. – Com um projeto semelhante no Espírito Santo, a Veracel Celulose gerou um emprego a cada 156 hectares, número menor do que se obtém com a pecuária e ocasionando maiores danos ao meio ambiente, conclui.