De quem é a culpa pela estiagem no Rio Grande do Sul?
2005-03-31
A mão do homem seria uma das responsáveis pela escassez de chuva que castiga o Estado desde o final do ano passado? Desmatamentos, poluição provocada por indústrias e automóveis, entre outras agressões ao ambiente, são causas da atual estiagem? Se a resposta para esses questionamentos não é unânime entre os pesquisadores, em um ponto há consenso: a degradação da natureza agrava os efeitos da seca.
A hipótese de que a ação humana tenha influência na estiagem não deve ser descartada, segundo o professor de pós-graduação em geologia da Universidade da Vale do Rio do Sinos (Unisinos) Marco Antônio Hansen. A principal mudança provocada pelo homem seria o aquecimento global (a temperatura média do planeta aumentou 1ºC nos últimos cem anos), que estaria acelerando o movimento das massas atmosféricas. Esse fenômeno favoreceria um quadro de estiagem. - Ainda faltam estudos e séries históricas para se afirmar algo - pondera o professor.
Posição distinta tem o coordenador do Núcleo de Pesquisas Antártidas e Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jefferson Simões. Para ele, a ausência de estudos não permite vincular a escassez de chuva a causas não-naturais. Simões defende a necessidade de investigar as variações climáticas no Estado.
- Seria uma leviandade afirmar que esta estiagem está associada a mudanças climáticas globais, ainda mais causadas pelo homem - ressalta.
A idéia de que a ação humana não pode ser relacionada com a atual seca é reforçada pelo professor de agrometeorologia da UFRGS Moacir Berlato. Ele se baseia em um dado histórico: o Estado já enfrentou estiagens tão ou mais severas que a atual nas décadas de 20 e 40 quando a degradação ambiental era sensivelmente menor.
Todos concordam que a atividade humana pode intensificar as conseqüências da falta de chuva. A derrubada das matas faz com que a água da chuva seja rapidamente absorvida pelo solo. O homem estaria anulando o papel de esponja natural exercido pelas florestas, que é o de absorver a umidade nos períodos de chuva e liberá-la lentamente aos mananciais de água.
Outro fatores podem contribuir para tornar mais dramáticos os cenários de futuras estiagens. A medida exata dessa influência já mobiliza esforços. Conforme Luiz Pinguelli Rosa, secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, atualmente há entendimento sobre a importância de avaliar as conseqüências do efeito estufa. (ZH, Ambiente, 6)