Seca no Estado revela caminhos dos lixos
2005-03-31
A seca que esvaziou rios, lagos e barragens no Estado não revelou apenas dramas de comunidades vítimas da falta de água. Os leitos dos rios exibiram um cenário vergonhoso de desrespeito do homem pela natureza, composto por toneladas de pneus, plásticos, partes de móveis e carcaças de carros. Somente na orla do Guaíba, em Porto Alegre, o Departamento Municipal e Limpeza Urbana (DMLU) retirou 106 toneladas de lixo desde janeiro deste ano.
Esta falta de cuidado tem um preço: além da poluição ambiental, o entulho jogado nos rios dificulta a captação de água para consumo humano e facilita a ocorrência de inundações. O professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Carlos Tucci afirma que o lixo observado nos períodos de seca vai parar nos cursos d água durante a época de chuva - seja coletado pelo sistema de esgoto pluvial, seja armazenado incorretamente em locais inadequados ou ainda jogado diretamente nestes locais.
Para o pesquisador, a situação escancara a falta de educação ambiental da população e as falhas no sistema de limpeza urbana.
- Estamos contaminando a nossa própria fonte de vida, que é a água. As pessoas costumam ser sensíveis às questões ambientais, mas, quando se trata de um interesse específico, tendem a ser bem mais egoístas - avalia.
Segundo Tucci, alguns países, como os Estados Unidos, optaram por não cobrar taxa de coleta de lixo. Em vez disso, são vendidos sacos específicos para a armazenagem dos resíduos, só recolhidos dentro dessas embalagens. A medida é uma tentativa de controlar e dimensionar o volume de lixo produzido por cada residência ou empresa.
Embora sejam vários os entulhos encalhados nos leitos dos rios gaúchos, as centenas de pneus abandonados formaram as imagem mais impressionante. A engenheira Carmem Níquel, do Serviço de Resíduos Industriais da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), diz que não há uma estimativa do volume desse material descartado nos cursos dágua. Defende a necessidade de uma maior conscientização dos usuários e das empresas para que os rios não se transformem em depósitos de sucata.
A responsabilidade pelo destino dos pneus inúteis é dos fabricantes, segundo legislação federal. A meta fixada para este ano é de que, para cada quatro pneus produzidos no país, cinco sejam recolhidos para reciclagem. O objetivo, segundo a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip), é difícil de ser cumprido.
- Nos últimos anos, já recolhemos mais de 70 milhões de pneus, mas precisamos da colaboração dos usuários. Tem gente que, quando vai trocar um pneu, não entrega o velho. Prefere levar para casa e aí, cedo ou tarde, parte destes pneus vai parar em local indevido - diz o presidente da Anip, Vilien Soares. (ZH, Ambiente, 4)