IBAMA ESTUDA USO SUSTENTÁVEL DE AVOANTES NO NORDESTE
2001-09-03
O Ibama deverá apresentar, nos próximos meses, uma proposta de uso sustentável de avoantes, aves típicas do semi-árido nordestino, ameaçadas pela seca indiscriminada. Em outubro, o Grupo de Trabalho para a Conservação e o Manejo da Avoante no Nordeste se reunirá na Paraíba para definir uma estratégia de ação que possa preservar a espécie do desaparecimento e evitar as consequências que isso traria para a caatinga. Também conhecidas como arribaçãs ou pombas-de-bando, as avoantes são alvo predileto dos caçadores, principalmente no período de reprodução da espécie, quando ela encontra-se mais vulnerável. A reprodução das avoantes coincide com início da seca nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Bahia. Em todo o semi-árido, a estiagem significa abundância de alimentos para as aves que, nesse período, encontram grande oferta de sementes, em especial as do marmeleiro. Para o sertanejo, a situação é inversa: seca é sinônimo de falta de alimento. Com escassez de comida, o morador da caatinga apela para a caça das arribaçãs como forma de complementar a dieta da família. Muitas aves são a única fonte de proteína disponível. Além dos moradores da caatinga, as avoantes também são as preferidas por caçadores cujo único objetivo é o de abastecer uma ampla rede comercial de bares e restaurantes. Nesses estabelecimentos, as arribaçãs são um dos itens mais apreciados do cardápio. A iguaria é consumida em quase todo o Nordeste e também na região Sudeste, a exemplo do Rio de Janeiro, onde, frequentemente, os fiscias do Ibama apreendem as aves em feiras como a de São Cristóvão. Como são capturadas muito cedo, a maioria das aves não consegue atingir a idade adulta. Apenas 70% delas conseguem atingir a fase juvenil (aproximadamente oito meses), conforme dados do centro de Pesquisa para a Conservação das Aves Silvestre-Cemave/Ibama. Nos pombais onde elas se aninham, os caçadores também pisoteiam os filhotes muito pequenos e até mesmo os ovos que estão sendo chocados. Para os especialistas, tais fatores associados podem estar contribuindo para a redução da população das arribaçãs na caatinga. Isso pode provocar a perda de diversidade biológica e o comprometimento daquele bioma. De acordo com o chefe do Cemave, João Luis Nascimento, a atual preocupação dos especialistas é descobrir, dentre o número de avoantes que nascem, quantas sobrevivem ao período reprodutivo. Para isso, equipes do Cemave estão espalhadas pela caatiga em busca de dados que permitam ao Ibama ordenar captura das aves, garantindo às populações tradicionais o acesso ao recurso e o fim da caça predatória.