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2005-03-30
Apontado como o principal mandante assassinato da missionária Dorothy Stang, o fazendeiro Valtamiro Bastos de Moura, o Bida, confirmou ter dado abrigo em sua fazenda aos assassinos da irmã americana, os pistoleiros Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, e Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo. Para o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, existem várias evidências do envolvimento de Valtamiro no crime.

No depoimento prestado ao delegado federal Ualame Fialho, o fazendeiro afirmou que na tarde de 12 de fevereiro chegaram em sua fazenda Rayfran e Eduardo. Rayfran teria lhe mostrado um revólver calibre 38, com quatro projéteis, e pedido mais algumas munições, informando que, naquele momento, tinha assassinado a irmã Dorothy.

Segundo o fazendeiro, Rayfran dizia ter matado a missionária americana por discussões em torno de uma plantação para sementes. No momento em que viu a arma na mão de Rayfran, Vitalmiro, para não se comprometer, afirmou ter orientado o assassino a sumir com a arma.

Segundo Vitalmiro, o pistoleiro Rayfran pediu comida e um pedaço de plástico para se esconder da chuva, antes de descer para um canto da fazenda. Na noite de sábado para domingo, segundo conta o fazendeiro, os dois pistoleiros dormiram em sua fazenda, não sabendo informar o local preciso, na companhia de Amair Feijoli da Cunha, o Tato, apontado como intermediário do crime. No dia seguinte, Vitalmiro afirmou ter encontrado Rayfran, Eduardo e Tato quando caminhava pela fazenda. Ele nega ter dado qualquer orientação a Rayfran e Eduardo, caso fossem capturados pela polícia. O fazendeiro diz que alertou os assassinos para que não ficassem em sua fazenda. (JB 29/03)

Polícia investiga mais 2 no caso Dorothy
Já a Polícia Federal deve se dedicar nos próximos dias a confirmar a hipótese de um consórcio formado por fazendeiros de Anapu interessados na morte da freira. Em discurso na manhã de ontem, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, indicou a nova linha de investigação. .

Segundo o promotor estadual Sávio Brabo, do Grupo Especial de Prevenção e Repressão às Organizações Criminosas do Estado, os nomes de alguns madeireiros vêm sendo citados com freqüência por acusados do assassinato. Bida, acusado de ser o mandante do crime, se entregou na manhã de anteontem à PF, na região de Altamira (777 km de Belém).

Em depoimento à PF, ao qual a Folha teve acesso, Vitalmiro não acusou nenhum fazendeiro, mas confirmou seu envolvimento com o Regivaldo Galvão (conhecido como Taradão), de quem comprou, por R$ 1 milhão, a fazenda em Anapu que estava na área do PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Esperança. Bida também disse que pediu ajuda ao fazendeiro Délio Fernandes, um dos maiores proprietários de terra da Transamazônica. Bida foi à casa de Délio dias após o crime para telefonar para sua mulher. Délio também teria emprestado um avião para Bida. Outro fazendeiro citado foi Luiz Ungaratti, que segundo Bida, possui terras no PDS Esperança.

Outro lado
Ontem à noite, a reportagem tentou entrar em contato com os três empresários citados por Bida, mas nenhum deles foi localizado. Segundo uma funcionária que trabalha na casa de Galvão, em Altamira, o empresário está viajando e não deixou um número para contato. No escritório e na casa de Fernandes, ninguém atendeu. Um funcionário da serraria de Ungaratti, em Anapu, disse que não poderia fornecer telefones de contato do empresário. Na União das Entidades Florestais do Estado do Pará (Uniflor), entidade da qual ele faz parte, ninguém atendeu ao telefone.

Acareação
Os quatro acusados do assassinato da freira, Bida, Rayfran das Neves Sales (Fogoió), 27, Clodoaldo Carlos Batista (Eduardo), 31, e Amair Feijoli da Cunha (Tato), 32, seriam acareados hoje no presídio Americano 3, em Santa Isabel (a 100 km de Belém). O procedimento foi adiado porque os advogados Oscar Damasceno, de Tato, e Augusto Septímio, de Bida, terão que se deslocar para Pacajá (521 km da capital), onde serão ouvidas quatro testemunhas de defesa. O advogado Américo Leal, que também defende Bida, informou que estará em uma audiência no município de Santarém (1.526 km de Belém). Ainda não foi marcada uma nova data para a acareação. Vitalmiro será ouvido pelo juiz responsável pelo caso, Lucas do Carmo de Jesus, na próxima quinta-feira. O depoimento estava marcado para hoje, mas foi suspenso porque Bida terá que ser ouvido em Belém, e o juiz não teria tempo de se deslocar da região onde o crime ocorreu. Os municípios de Pacajá -onde fica o juiz- e Anapu estão praticamente isolados por causa das fortes chuvas e de um buraco de 20 metros aberto na rodovia Transamazônica. A viagem até a capital pode chegar a 12 horas. (FSP 29/03)

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