Empresas portuguesas compram a destruição da Amazônia, acusa Greenpeace
2005-03-30
O Greenpeace e a ONG portuguesa Quercus (Associação Nacional de Conservação da Natureza) bloquearam ontem (29/3) a entrada principal da fábrica do grupo Vicaima, próximo à cidade do Porto, em Portugal. Dez ativistas estenderam por quatro horas uma faixa com a mensagem Chega de madeira ilegal – Comprem FSC para protestar contra a exploração e comércio ilegais de madeira da Amazônia. Durante o protesto, os ambientalistas se reuniram com a direção da empresa. Apesar do caráter pacífico da manifestação, um jornalista português e o vice-presidente da Quercus, Luis Galrão, foram agredidos por dois diretores da empresa.
O grupo Vicaima é um dos maiores processadores de madeira em Portugal e um dos principais fabricantes de portas da Europa. Os produtos das empresas do grupo são comercializados na Espanha, França, Inglaterra, Alemanha e em outros países europeus. Grande parte da madeira processada vem da empresa Madeiporto, da qual o grupo é proprietário.
A Madeiporto compra madeira amazônica importada pela gigante dinamarquesa DLH Nordisk. Na semana passada, o Greenpeace e a Quercus bloquearam o navio Skyman quando a embarcação entrava no porto de Leixões. O navio transportava madeira de empresas envolvidas com exploração ilegal na Amazônia brasileira. Entre elas, a Rancho da Cabocla, cujo proprietário Moacir Ciesco foi recentemente preso pela Polícia Federal devido às atividades ilegais da sua empresa no Pará; e a Milton Schnorr, multada por exploração e transporte ilegais de madeira em 2001, 2002 e 2004. Das empresas brasileiras que exportaram madeira para Portugal em 2004, 35 delas tem multas relacionadas a crimes ambientais. — A exploração de madeira na Amazônia e em outras florestas tropicais está relacionada com grilagem de terras, violência contra comunidades locais e destruição ambiental, disse Marcelo Marquesini, da campanha da Amazônia do Greenpeace. — Por seu histórico de envolvimento com ilegalidades, a DLH Nordisk e o grupo Vicaima podem ser considerados cúmplices nos crimes socioambientais que ocorrem nos países produtores de madeira. Está na hora das empresas assumirem sua responsabilidade, fechando seu mercado para a madeira de origem criminosa.
O Greenpeace e a Quercus exigem que o grupo Vicaima e a DLH Nordisk parem imediatamente de comprar madeira de empresas envolvidas com ilegalidades e que só comercializem produtos certificados pelo FSC (Forest Stewardship Council, ou Conselho de Manejo Florestal). — Não basta apenas as empresas madeireiras de Portugal tomarem medidas para combater o comércio de madeira ilegal, disse Luís Galrão, vice-presidente da Quercus. — O governo português também deve se comprometer com a questão ambiental e apoiar a nova legislação da União Européia contra madeira ilegal e promover a certificação FSC.
O FSC é o único sistema de certificação independente que adota padrões ambientais internacionalmente aceitos, incorpora de maneira equilibrada os interesses de grupos sociais, ambientais e econômicos e tem um selo amplamente reconhecido no mundo todo. O FSC oferece a melhor garantia disponível de que a atividade madeireira ocorre de maneira legal e não acarreta a destruição das florestas primárias como a Amazônia.