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2005-03-29
Um bichinho danado de trabalhoso para degustar, mas igualmente danado para deixar com água na boca turistas e baianos, o caranguejo está ameaçado no litoral nordestino. A mortandade da espécie de causa ainda não identificada vem sendo observada há quatro anos, mas com maior intensidade desde o ano passado. O sumiço do caranguejo dos mangues da região Nordeste tem preocupado quem aprecia o sabor do crustáceo, quem sobrevive do comércio dos animais e órgãos ambientais, que tentam a todo custo preservar a espécie. Uma portaria nacional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) autoriza as gerências regionais a criar normas na tentativa de assegurar a existência dos caranguejos.

Na Bahia, além da proibição da captura de fêmeas entre os meses de dezembro a maio, vigora a determinação de respeito à carapaça de seis centímetros. A cata de caranguejos menores que seis centímetros é proibida independentemente do período do ano. Este ano, novas restrições foram estabelecidas com intuito de proteger o período de reprodução dos caranguejos. De janeiro a março, entre os dias 10 e 15 de cada mês, a captura de caranguejos é proibida, seja de fêmeas ou machos. – Temos defendido o defeso do caranguejo em Brasília junto a Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros, mas ainda não conseguimos estabelecer a proibição total da captura, explica o gerente executivo do Ibama na Bahia, Júlio Rocha.

Por enquanto, a restrição de pesca vale apenas para o período chamado de andada, em que os crustáceos saem das tocas para promover o acasalamento. A saída sincronizada da espécie no período reprodutivo, em geral combinado com dias de maré mais alta entre as luas cheia e nova, é visto como um prato cheio para os pescadores que diante da exposição concentrada da espécie consideram os dias de andada mais lucrativos. Não é difícil entender que, apesar de necessária, a restrição não vem sendo cumprida. – A andada ainda não está sendo respeitada, mas como se trata de uma norma recente, estamos trabalhando para torná-la conhecida. É preciso conscientizar a população da mortandade dos caranguejos, acrescenta Júlio Rocha.

Provavelmente, fenômenos multicausais têm contribuído para a redução significativa de caranguejos em todo o Nordeste. Uma das explicações cogitada é a proliferação de um tipo de fungo. A suspeita que ainda vem sendo pesquisada por universidades brasileiras, soma-se a outros fatores que podem estar contribuindo para a mortandade dos crustáceos, como a retirada excessiva de animais, a especulação imobiliária ao longo do litoral, que vem contribuindo para o aterramento de mangues, e a ampliação da maricultura. Há suspeita de que o produto utilizado para limpar os tanques dos camarões e que é escoado para o mar seja prejudicial à espécie. – Hoje apesar de não exportar mais caranguejo, a Bahia exporta camarão. Essa inversão é fruto de uma opção econômica que favorece as grandes empresas de maricultura, mas prejudica as pequenas comunidades que sobrevivem da pesca e da mariscagem, destaca Rocha.

Comunidades sobrevivem do comércio do crustáceo
Lembrando que o consumo de caranguejo é algo cultural que não pode ser extinto, o gerente executivo do Ibama na Bahia, Júlio Rocha, vem tentando uma parceria com a Delegacia Regional do Trabalho (DRT) para conseguir viabilizar o auxílio desemprego aos pescadores e marisqueiras que sejam prejudicados com o período de defeso. – Essa seria uma forma de, além de proteger a espécie, proteger também as comunidades que sobrevivem com comércio de caranguejos, defende Rocha, que acredita que ainda este ano o defeso completo do caranguejo será determinado. A intenção é que, no mínimo, por três meses a captura dos bichos seja suspensa no litoral nordestino.
Até lá, os bichos continuam sendo produto raro nas feiras e nos restaurantes especializados da cidade. – Infelizmente, a gente não encontra mais. Nada se compara a um caranguejo baiano, diz saudosa a assistente social Elita Nascimento, que degustava o crustáceo importado do Belém do Pará no Sentollas na manhã de ontem. – Apesar do caranguejo do Pará ser maior, ele não tem o mesmo sabor que o nosso, compara a consumidora que junto com a família se divertia no bate e bate de pernas e puãs. – Como não tem outro jeito a gente quebra o galho com esse, mas torcendo sempre para que esta mortandade seja resolvida. Com tanto mangue na Bahia não tem porque faltar caranguejo, conclui. (Correio da Bahia 28/03)

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