Acidentes com produtos químicos respondem por boa parte da poluição das águas
2005-03-24
Os acidentes ambientais com produtos químicos já respondem por uma boa parte da contaminação das águas. Segundo relatório da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), embora o esgoto doméstico se constitua, atualmente, na maior fonte de poluição dos recursos hídricos, o derramamento de produtos químicos na água pelo transporte rodoviário já são responsáveis por 32% desse tipo de contaminação, seguido pelos postos de revenda de combustíveis (10%) e transporte por duto (7%).
O relatório Qualidade das Águas Interiores 2004 foi elaborado com base na análise dos dados coletados pela rede de monitoramento da Cetesb, que conta com 316 estações manuais e 14 estações automáticas, além de 61 pontos de captação de água bruta para abastecimento público, em todo o estado. O relatório é produzido há 30 anos.
De acordo com os dados, aumentou o número de cidades com coleta e tratamento de esgoto no estado de São Paulo. Segundo o relatório da Cetesb, 39% dos 645 municípios paulistas trataram em 2004 o seu esgoto, contra 37% em 2003 e 30% em 2002. Na Bacia do Alto Tietê, 38% do esgoto está sendo tratado. Na Baixada Santista, esse percentual sobe para 59%. De acordo com os técnicos da Cetesb, esses percentuais são bastante significativos quando consideradas as altas taxas populacionais e de industrialização nessas regiões.
Outras áreas apresentam porcentagens mais elevadas, mas um índice de densidade populacional e de atividade industrial mais reduzido. É o caso da Bacia do Sapucaí-Grande, na divida com Minas Gerais, que tem 60% do esgoto tratado, São José do Dourados (98%), Médio Paranapanema (62%) e Aguapeí (80%), localizados em regiões onde predominam a agropecuária e com baixa densidade populacional.
Segundo o levantamento, houve melhoria da qualidade das águas nos 61 pontos de captação para o abastecimento público, com índice 17% superior ao constatado em 2003. De acordo com a Cetesb, 70% dos pontos que apresentaram melhoria abastecem as regiões da Grande São Paulo e Campinas, que reúnem mais da metade da população do Estado (cerca de 20 milhões de habitantes).
O estado de São Paulo é dividido em 22 unidades de gerenciamento de recursos hídricos. Na Bacia da Mantiqueira, que inclui a cidade de Campos de Jordão, o esgoto doméstico já afeta a qualidade das águas, mas existe previsão para a implantação de uma estação de tratamento a partir de 2008.
No caso da Bacia do Paraíba do Sul, onde estão localizadas cidades como São José dos Campos, Taubaté, Jacareí e Aparecida, a elevada densidade populacional e o nível insuficiente do tratamento dos esgotos têm se refletido na redução dos níveis de oxigênio dissolvido e na má qualidade da água em vários trechos do rio.
Na Bacia do Litoral Norte, o tratamento de esgoto, com percentual de 31%, já é significativo, segundo a Cetesb, se comparado à densidade populacional, mas apresenta problemas pontuais, como na Praia da Baleia, em São Sebastião, e nas águasdo Rio Grande, em Ubatuba.
Na Bacia do Pardo, já é possível constatar a melhoria da qualidade das águas, com o aumento do nível do oxigênio dissolvido. Isso é reflexo do tratamento dos esgotos domésticos na região de Ribeirão Preto, embora o trecho inicial do rio, na divisa com Minas Gerais, tenha apresentado declínio na qualidade, em relação ao ano anterior. A Bacia do Capivari sofre com a contribuição da carga orgânica do Município de Campinas, enquanto a Bacia do Jundiaí apresenta uma piora acentuada na qualidade das águas.
Na Bacia do Piracicaba, formada pelos rios Atibaia, Jaguari, Piracicaba e contribuintes, as fontes industriais potenciais são monitoradas sistematicamente, mas existem contribuições significativas dos ribeirões Lavapés, em Bragança Paulista, Tatu, em Limeira, e Quilombo, na mesma região, que misturam carga orgânica, proveniente dos esgotos domésticos, e química, decorrente das empresas de bijuterias.
No caso da Bacia do Alto Tietê-Cabeceiras, a Cetesb informou que conseguiu a transferência de algumas indústrias químicas para outras regiões, além da mudança nos processos produtivos ou o encerramento das atividades nas quais não foi possível o controle dos efluentes. Algumas empresas passam por estudo de contaminação do solo para verificar a existência de passivoambiental.
Na Região Metropolitana de São Paulo, os investimentos já realizados na captação e tratamento de esgoto ainda não se refletem na qualidade das águas do Tietê, Tamanduateí e Pinheiros, que atravessam as áreas mais populosas e industrializadas do Estado.
A qualidade das águas que compõem a Bacia da Baixada Santista indica a necessidade de monitoramento de comunidades fitoplanctônicas, pois existe a possibilidade da presença de algas potencialmente tóxicas; além da investigação das fontes responsáveis pelos elevados teores de nitrogênio e fósforo, identificados nos rios Moji e Piaçagüera. (O Globo 23/03)