Reuso da água em Curitiba está engavetado há 1 ano
2005-03-24
A lei que prevê a instalação de sistemas de reaproveitamento da água nas casas e prédios de Curitiba espera há um ano para ser regulamentada. O projeto, imaginado para reduzir o consumo de água e o custo do tratamento nas estações, virou lei no ano passado. Passou a vigorar em 30 de março de 2004. Mas a prefeitura nunca criou a regulamentação que colocaria a idéia em prática. De acordo com as construtoras da cidade, deixar o projeto na gaveta é a melhor solução. As empresas alegam que a proposta traria custos extras e riscos desnecessários à população.
A idéia do projeto é fazer com que a água usada na pia e nos chuveiros não seja imediatamente descartada para o sistema de esgoto. Ela poderia ser usada novamente, tanto para lavar calçadas quanto para descarga em vasos sanitários. Só então, depois do segundo uso, a água iria para o esgoto. Com isso, os defensores da lei acreditam que poderiam diminuir a quantidade de água que a cidade consome.
O secretário municipal de Urbanismo, Gilberto Coelho, não descarta o interesse em retomar a discussão e em regulamentar a lei, principalmente pelo interesse em preservar o meio ambiente. Mas o secretário acredita que seriam necessárias algumas mudanças na atual lei para que ela possa ser aplicada.
– A lei prevê que inclusive as casas de interesse social teriam de ter o sistema. Isso talvez inviabilize a idéia, afirma Coelho. As casas de interesse social são as construções da Cohab para grupos de baixa renda. Ou seja: tanto o município quanto os moradores teriam de desembolsar mais dinheiro para que as construções fossem adequadas ao que prevê a lei.
Para as construtoras, esse não é o maior empecilho ao projeto. – Há riscos para a saúde dos moradores, diz Volmir Selig, diretor do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) do Paraná. – Imagine se alguém com uma doença de pele toma banho e essa água é reutilizada para o vaso. Há uma chance de alguém ser contaminado, diz.
Hotel
O vereador João Cláudio Derosso, autor do projeto de lei, diz que o reuso é seguro e que a regulamentação pode resolver qualquer problema que ainda reste. – Um sistema de filtragem simples garante a qualidade da água e evita qualquer problema sanitário. Quem não quer fazer é que fica encontrando problemas, afirma.
Como prova de que sua idéia é viável, Derosso conta que um hotel de Curitiba usa um sistema muito semelhante ao que ele defende. É o Hotel Íbis Curitiba Batel. – Captamos, armazenamos e filtramos toda a água de pia e chuveiros, que é reutilizada nos vasos sanitários, diz Gabriel Raad, diretor da Construtora Laguna, que ergueu o hotel. Segundo ele, os custos extras para instalação do sistema devem se cobertos em 18 meses pela economia de água e não há qualquer reclamação por parte dos hóspedes. – A água é limpa, cristalina. Tem só um leve cheiro de cloro, mas nem se sente, diz. (Gazeta do Povo-PR 23/03)