ONG’s protestam em Porto Alegre contra desmatamento em Barra Grande
2005-03-24
A destruição de 5,6 mil hectares de Mata Atlântica para a construção da Usina Hidrelétrica de Barra Grande, na divisa entre RS e SC levou ambientalistas, estudantes e atingidos por barragens a protestarem no centro de Porto Alegre, na última terça-feira (22/03), data que marca o Dia Mundial da Água. As obras da hidrelétrica estão em andamento, mesmo depois do Ibama ter constatado irregularidades no estudo do impacto ambiental do empreendimento, apresentado pela Engevix Engenharia S/C Ltda. Na mesma data a empresa foi multada em R$ 10 milhões pelo Ibama por omitir a extensão do impacto ambiental da construção da Hidrelétrica. O principal agravante é o alagamento de 4.235 hectares de florestas de araucária primária ou em estágio avançado de regeneração para formação do reservatório.
O protesto, organizado pelo Movimento SOS Rio Uruguai, reuniu entidades ambientalistas, estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em frente à agência central do banco Bradesco. No ato, também estavam presentes o Núcleo Amigos da Terra, Greenpeace, Associação de Preservação do Meio-Ambiente do Alto Vale do Itajaí (Apremavi) e Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan).
Segundo o professor do Instituto de Biociências da UFRGS, Paulo Brack, — a Justiça e os órgãos governamentais não estão sendo sensíveis ao problema, por isso resolvemos atingir a imagem das empresas financiadoras desse tipo de obra, como o Bradesco, afirma o professor. O Bradesco destina R$ 1 bilhão e 200 milhões à atividades que levam à destruição da Mata Atlântica. Na ocasião, foi entregue à diretoria do Bradesco uma carta assinada pelas entidades presentes solicitando que o banco pare de investir no ramo.
Para Brack, na grande imprensa não há espaço para se discutir o tema. De fato, a poucos metros do local onde era realizado o protesto, uma equipe de reportagem da RBSTV fazia a cobertura da Feira do Peixe no entorno do Mercado Público Municipal. Justamente no Dia Mundial da Água, não houve espaço no noticiário da emissora para o protesto contra o corte de araucárias em Barra Grande.
Os alunos do curso de biologia da UFRGS, responsáveis por fazer barulho durante a manifestação, eram os mais mobilizados. Com cartazes, gritaram palavras de ordem e conversaram com os que passavam pela esquina das ruas General Câmara e Andradas perguntando se elas tinham conhecimento do caso e se concordavam com o desmatamento. Na próxima semana, deve ser exibido na universidade um curta-metragem elaborado por alunos sobre a construção da barragem. Misturando a temática ambiental com a social, o material traz explicações de técnicos sobre a riqueza natural da região e depoimentos de moradores locais contrários à construção da hidrelétrica.