Apreensões de madeira em reserva indígena representam pouco perto do total
2005-03-22
O indigenista Ariovaldo José dos Santos, que já administrou a Funai e hoje atua como técnico do órgão, avalia que as cargas de madeira apreendidas representam muito pouco diante do volume que sai das reservas e chega ao comércio interno e externo. Santos não soube estimar a quantidade, mas acha que condições das matas nas áreas indígenas apontam o nível de devastação.
O chefe do Serviço de Meio Ambiente e Fundiário, Benedito Araújo, reforça as declarações de Santos observando que no Vale do Guaporé (no Mato Grosso) existe pouca madeira de lei, como cerejeira, mogno e cabriúva.
Como as mais caras e cobiçadas estão desaparecendo, passaram a roubar as espécies denominadas de madeira branca. Mas muitas delas, alertou ele, são frutíferas e fazem parte da cadeia alimentar dos animais, como a Pariri.
Fazer apreensões, como têm feito a Funai junto com os organismos policiais, é uma medida repressiva necessária, porém não o bastante, na avaliação de Ariovaldo Santos. Para o indigenista, é necessário instituir com urgência um plano nacional de manejo para as reservas indígenas.
- Mas pode ser que quando o governo acordar para isso não haja mais nada nas terras dos índios, lamenta Santos. Mas ele reconhece que além do roubo, grande quantidade de madeira sai das reservas com a conivência dos índios.
Para Ariovaldo Santos, o contato com a cultura e costumes do homem branco despertou no índio o interesse pelo conforto e facilidades o dinheiro pode proporcionar. Mas isso estaria acontecendo porque quem rouba é mais organizado do que o governo, que tem a tarefa de fiscalizar, orientar e assistir o índio. Em algumas áreas, como na reserva Sararé, os índios começaram a criar animais, mas além de um rebanho maior do que as 180 cabeças que possuem, poderiam ter pomar e explorar a madeira e o palmito. (Diário de Cuiabá 21/03)