Ladrões usam olheiros para roubar madeira
2005-03-22
Carregamento de madeira apreendido durante fiscalização da Funai em reserva indígena no interior do Mato Grosso.
A garantia de comércio fácil e altos lucros transformaram a madeira em produto tão cobiçado quanto o ouro em algumas regiões do estado. E as reservas indígenas em fonte certa de extração. Em alguns municípios, os ladrões de madeira estão contratando motoqueiros para atuar como olheiros.
Além de dar o sinal verde para a invasão das áreas indígenas sem riscos de serem flagrados pela polícia, os olheiros têm a tarefa de identificar os pontos onde estão o maior número e as melhores árvores para derrubada.
Em 2004 e nos dois primeiros meses deste ano, a Funai apreendeu em áreas de reservas indígenas centenas de metros cúbicos de madeira, dois tratores, duas máquinas de esteira, dois caminhões, duas motos, 17 foices, um machado e uma moto-serra. Mas não conseguiu prender nenhuma pessoa.
No Vale do Guaporé estão as áreas indígenas mais cobiçadas pelos que exploram a extração e o comércio ilegal de madeira. Situada entre os municípios de Comodoro e Nova Lacerda, a 550 quilômetros de Cuiabá, a reserva Guaporé tem 242.597 hectares, nas quais vivem pouco mais de 600 índios de sete etnias.
Lá, durante uma operação da Polícia Federal e fiscais da 5ª Administração Regional da Funai (com sede em Cuiabá), foram apreendidos um caminhão carregado de madeira e um trator. O roubo aconteceu em setembro de 2004, no território dos índios wasusu.
Este ano, no final do mês de janeiro, nova apreensão aconteceu lá, desta vez na área dos alantesu. Os fiscais da Funai flagraram um caminhão saindo de dentro da reserva transportando uma máquina de esteira. Os dois homens que estavam no veículo se embrenharam na mata e conseguiram fugir.
Além de apreender os dois veículos, os fiscais descobriram grande quantidade de árvores derrubadas, prontas para o transporte. Benedito César Garcia Araújo, chefe de Serviço de Meio Ambiente e Fundiário da 5ª da Funai, explicou que a máquina de esteira é usada para esplanagem da madeira, ou seja, elevação das toras para locais de onde podem ser carregadas.
O palmito, em abundância em algumas do Guaporé, é outro produto que desperta ganância nos ladrões. No mês de setembro, foram apreendidas 250 peças de palmito in natura dentro da carroceria de um caminhão. O veículo foi abandonado no atoleiro da mata, dentro da reserva dos índios manaindê.
Benedito Araújo diz que os ladrões evoluem com muito mais rapidez que as ações de repressão e combate a esse tipo de crime. Enquanto daqui de Cuiabá, a 500 quilômetros da reserva mais próxima, a Funai leva dias para se organizar no atendimento das denúncias que chegam via telefone, bem mais organizados e próximo das áreas, os ladrões mantêm olheiros percorrendo as reservas em motos.
Além de identificar onde há mais madeira de qualidade para extração, os motoqueiros alertam os peões e líderes sobre a aproximação da Polícia Federal e fiscais na região e ainda levam alimentos prontos, na maioria das vezes refeições em marmitex, para não chamar a atenção fazendo fogueiras na mata. (Diário de Cuiabá 21/03)