Flagrado esquema ilegal para extrair areia do Delta do Jacuí
2005-03-21
Uma investigação de extração ilegal de areia no Parque Estadual do Delta do Jacuí e no Rio Jacuí flagrou um esquema que envolve empresários e servidores públicos em corrupção ativa e passiva, sonegação fiscal, formação de quadrilha e formação de cartel. Com a Operação Dragão, a Polícia Federal (PF) prendeu ontem cinco pessoas e cumpriu mandados de busca e apreensão em 18 locais, inclusive na residência de um oficial da Brigada Militar, que atuou no Batalhão Ambiental.
Há suspeita de que o oficial beneficiava empresas que extraem areia em troca de ajuda para conseguir promoção ao posto de tenente-coronel. O oficial foi removido do batalhão por causa das suspeitas. Nas buscas, foram apreendidos documentos, computadores e armas. O material será analisado com intuito de verificar o tempo de prática e extensão dos delitos. Os cinco presos estão com prisão preventiva decretada pela Justiça Federal.
O trabalho da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente e ao Patrimônio Histórico começou no ano passado, quando quatro dragas foram apreendidas e 12 pessoas, presas por extração ilegal de areia. Ao apurar o crime ambiental, a PF seguiu o rastro de outros crimes.
O primeiro deles é a formação de cartel. Conforme o delegado Álvaro Palharini, as três empresas - Aro, Somar e Smarj - que têm licença para extrair areia no Jacuí, cobravam das dragas interessadas em coletar o mineral valores idênticos. Ao verificar o cartel, a PF descobriu que um oficial da BM, na época lotado no Batalhão Ambiental, usava efetivo para garantir que outras dragas não atuassem na área dos empresários.
- Ele usava subordinados para dar proteção especial às atividades das empresas. Em contrapartida, os empresários usavam de influência junto a políticos para tentar conseguir a promoção do oficial, que desejava assumir o comando do batalhão - afirmou o delegado.
Foram presos Fernando Machado Borges e José Luis Machado, da Aro. Segundo Palharini, os dois responderão por sonegação fiscal, pois forneciam notas de venda de areia em valores inferiores ao que a mercadoria custava. Da empresa Somar foi preso José Osvaldo Della Mea.
Um quarto empresário, Neri Crispim, é suspeito de ter subornado um perito nomeado pela PF para avaliar as dragas apreendidas em 2004. O quinto preso é Aldir Freitas de Oliveira que, segundo a PF, atuava como olheiro dos empresários. Quando equipes de fiscalização davam início ao trabalho, ele avisava as dragas ilegais, que escapavam. O nome do oficial da BM não está sendo divulgado porque ele ainda está sob investigação
Contrapontos
O que diz a Brigada Militar, por intermédio de sua assessoria de imprensa:
- A BM optou por transferir o oficial do Batalhão Ambiental para colaborar com as investigações da Polícia Federal. Conforme o resultado da investigação, a BM decidirá se vai ou não abrir investigação em relação ao oficial.
Zero Hora não conseguiu contato com os defensores dos demais presos. (ZH 19/03)