Índios do Tocantins reclamam de poluição de rios por agronegócio
2005-03-21
Lideranças da etnia Craô, que vive em reserva nacional no nordeste do Tocantins, denunciaram ao Ministério Público Federal que a expansão do agronegócio tem provocado a contaminação por agrotóxicos dos rios e córregos que banham a reserva. A denúncia foi levada ao procurador-geral da República no Tocantins, Adrian Pereira Ziemba, que investigará o caso.
Os índios craôs reclamam de poluição das águas dos rios que utilizam para beber e banhar-se devido ao avanço das plantações de soja até as margens.A reclamação dos craôs foi encampada pela ONG CTI (Centro de Trabalho Indigenista) e pelo indigenista Fernando Schiavini, que atuam na reserva.
– A situação tende a se agravar porque a soja está no limite dos rios, diz Schiavini. – Tanto os índios como as comunidades estão ficando cercados pela soja.
– No caso dos agricultores, o avião lança veneno sobre as casas deles, diz Jaime Siqueira, um dos coordenadores da ONG.
Para o engenheiro agrônomo Décio Galvão, da Coapa (Cooperativa dos Produtores Agrícolas da região), a dosagem de inseticidas, herbicidas e adubos borrifada sobre as lavouras é controlada pelas empresas que beneficiam a soja e insuficientes para causar a contaminação de um rio.
A reserva, conhecida como Terra Indígena Craolândia está situada nas cidades de Goiatins e Itacajá (422 km e 321 km de Palmas.
O Ibama diz que a responsabilidade pela fiscalização é do governo estadual. A Secretaria de Agricultura do Tocantins disse desconhecer o tema e que o problema não é da sua competência.
Antes das queixas dos índios, a CPT (Comissão Pastoral da Terra) havia pedido ao Ministério Público Estadual, em julho de 2004, que apurasse as causas das mortes de duas pessoas -uma delas criança-, supostamente decorrentes de envenenamento.
A Promotoria, entretanto, não instaurou procedimento para averiguar o caso. À época, apenas alguns fazendeiros foram multados pelo Ibama por devastação.
Segundo Pedro Antonio Ribeiro, da CPT, casos de intoxicação de colonos são recorrentes, mas poucos são investigados porque – as pessoas lá morrem e acabam enterradas no mato mesmo. (FSP 18/03)