Casa ecológica não sai do projeto em Nova Hartz
2005-03-18
Uma iniciativa que deveria ser um conjunto habitacional modelo, com moradias auto-sustentáveis e ecologicamente corretas em Nova Hartz, no Vale do Sinos, acabou interrompida antes de ser concluída.
Das 49 residências originalmente previstas para ocupar um loteamento em 2002, apenas oito foram construídas - e ainda assim sem respeitar integralmente o projeto original. O restante do loteamento acabou ocupado por casas de madeira e barracos fora do padrão previsto originalmente.
Mecanismos concebidos para economizar luz elétrica e água potável, como painéis para captação de energia solar e um sistema de calhas que permitiria armazenar água da chuva para abastecer a descarga do vaso sanitário, molhar o jardim e limpar o pátio, por exemplo, não foram implantados. Idealizado pelo Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação (Norie) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o projeto previa ainda outras soluções inteligentes, como um biodigestor para transformar os resíduos do vaso sanitário em adubo orgânico. – Não quis mais voltar ao local de tão decepcionado que fiquei, lamenta Miguel Sattler, coordenador da linha de pesquisa em Edificações e Comunidades Sustentáveis do Norie.
Um protótipo completo dessa casa ecologicamente inteligente foi construído no Campus do Vale da UFRGS. Em Nova Hartz, a construção das primeiras oito casas foi custeada pelo município com cerca de R$ 50 mil financiados por um programa da Caixa Econômica Federal. De acordo com Satller, a prefeitura nunca explicou o porquê do projeto ter sido abandonado.
Neste ano, alunos do Norie pesquisarão a opinião dos ocupantes das oito casas que chegaram ser construídas no município. Um desses moradores é o pedreiro Ivo Souza, 55 anos, que divide a habitação de dois quartos, cozinha, banheiro, área de serviço e varanda com a mulher e três filhos. Souza se diz satisfeito com a residência na qual mora há cerca de três anos, mas lamenta que o aproveitamento da energia solar e da água das chuvas não seja possível.
– É uma pena porque poderíamos estar economizando água e luz, lamenta.
Contraponto
O que diz Jamir Adilio Pelicioni, secretário municipal da Habitação e Meio Ambiente de Nova Hartz:
– Esse projeto foi realizado pela administração passada, que não nos deixou nenhuma informação a respeito. Sabemos que o loteamento Norie, como é chamado, é o mais problemático do município porque há uma série de invasões. Há até mais de uma casa por lote, o que é irregular. Vamos estudar o que fazer com o loteamento e procurar a UFRGS. A idéia dessas casas que aproveitam melhor a luz do sol e a água da chuva nos parece interessante.
O que diz Edison Ubiratan Trindade, ex-prefeito de Nova Hartz:
– Houve muitas dificuldades nesse projeto, mas nossa parceria com a UFRGS foi muito rica. Infelizmente, é difícil compatibilizar o ritmo da universidade com de uma prefeitura, que nunca tem recursos suficientes e sempre enfrenta demandas extraordinárias que precisam ser resolvidas rapidamente. Não lembro exatamente o que houve com esse projeto, até porque fiquei muito tempo afastado da prefeitura por problemas de saúde, mas recordo que houve dificuldades técnicas com a Caixa Econômica Federal. (ZH, 48)