A quem interessa a venda da Ipiranga?
2005-03-17
Por Elmar Bones
A venda do grupo Ipiranga para a estatal Petroleos de Venezuela Sociedad Anonima (PDVSA), embora desmentida, segue excitando o meio empresarial. A razão é simples: à medida que os dias passam (a informação foi plantada na quinta feira passada) vai ficando mais claro para todos que a hipótese, que arrepia o conservadorismo local, se encaixa perfeitamente no jogo de forças que está redesenhando o mercado de petróleo e petroquímica na América do Sul.
Por trás do barulho ideológico imposto pela figura de Hugo Chavez e que pode embaralhar a compreensão dos fatos, há gigantescos interesses e disputa de mercados continentais. Nesse quadro quase nada é impensável. Um exemplo? A Braskem tem um protocolo de entendimento com a PDVSA para projetos conjuntos em ambos os países. Numa apresentação dos planos da empresa, para analistas de investimentos, na terça-feira (15/03) em Porto Alegre, o vice-presidente da Braskem, Paul Altit, questionado por um investidor, confirmou a existência do acordo e considerou-o muito importante, embora não o tenha mencionado em sua explanação.
A Braskem, como se sabe, é o braço petroquímico do grupo Odebecht e divide com a Ipiranga o controle da Copesul. No dia 30 de abril, a Braskem pode se tornar majoritária na Copesul por uma simples opção de acionista da Petrobrás, sócia da Braskem no pólo de Camaçari. Se isso ocorrer o valor da Ipiranga, que hoje alcança avaliações de R$ 2,1 bilhões no mercado acionário, desaba.
É nesse contexto que aparece uma fonte bem informada, ligada à Braskem e à Petrobrás, dizendo que a PDVSA está oferecendo um 1,2 bilhões de dólares pela Ipiranga. Para a PDVSA, dona do petróleo e da nafta, não é inconveniente ficar minoritária na Copesul, cedendo o controle à Braskem, cujo objetivo estratégico é consolidar a liderança na petroquímica no continente. Para a PDVSA, o importante é a rede de 4.300 postos que a Ipiranga tem em todo o país, que lhe garantem 20 por cento do mercado brasileiro de gasolina e derivados de petróleo.
Para as cinco famílias que controlam a Ipiranga restará alternativa?