Pesquisa mede emissão de CO2 na agricultura
2005-03-16
O Cena (Centro de Energia Nuclear da Agricultura) desenvolve pesquisas, de âmbito mundial, que medem a emissão e seqüestro de CO2 (gás carbônico) na agricultura. Os estudos indicam que o sistema de plantio direto –– sem o preparo do solo –– reduz a emissão de CO2 em 0,5 tonelada por hectare plantado por ano. No Brasil esse montante chega a 10 milhões de toneladas por ano. A colheita da cana-de-açúcar sem a queima da palha também gera uma economia de 1,6 tonelada de carbono emitida por hectare por ano.
O professor do Departamento de Geoquímica ambiental do Cena e coordenador da pesquisa, Carlos Cerri, alerta para a importância ambiental dessas alternativas que diminuem as conseqüências do efeito estufa. Os estudos são desenvolvidos no Brasil, na África e na Índia.
Cerri afirmou que após a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto –– em fevereiro deste ano ––, que prevê a redução da emissão dos gases que provocam o efeito estufa, aumentou a importância de mensurar quais medidas podem ser tomadas para diminuir essa emissão. — Há duas formas de fazer, uma reduzindo a emissão dos gases e outra fixando (seqüestrando) o carbono na terra - disse.
Segundo Cerri, o sistema de plantio direto na agricultura brasileira, método que dispensa o preparo da terra, reduz a emissão de CO2 no ambiente em 0,5 tonelada por hectare ao ano. O índice foi obtido por intermédio de um levantamento realizado no setor agrícola que mostra resultados dos últimos 20 anos.
— Ao adotar o plantio direto em substituição ao preparo do solo com aração e gradagem, que libera CO2 na atmosfera, o Brasil deu um grande passo para a sustentabilidade. As formas tradicionais da agricultura favorecem a ação de microorganismos que acabam liberando o estoque de carbono do solo para a atmosfera - falou Cerri.
Segundo ele, o plantio direto, além de evitar este processo, acaba por retirar quantidades do gás carbônico da atmosfera.
Cerri afirmou que na agricultura brasileira o sistema de plantio direto já é aplicado em cerca de 22 milhões de hectares. Ele contou que a modalidade foi adotada inicialmente na década de 1970, registrando um aumento exponencial nos últimos oito anos. — Principalmente em cultura de grãos, como milho e soja, os agricultores estão adotando o plantio direto - afirma.
Outras práticas
Cerri disse que não são somente os processos de tratamento do solo que provocam a emissão de CO2. — Há outras práticas na agricultura, como a queima da cana-de-açúcar, por exemplo - falou.
Ele explicou que quando a cana não é queimada também aumenta o seqüestro de CO2 no solo. — A redução da emissão de gás da colheita da cana sem a queima chega a 1,6 toneladas de carbono por hectare ano, é uma quantia considerável - disse Cerri.
Pelo Protocolo de Kyoto, essa economia de CO2 ainda não pode ser vendida no mercado de créditos de carbono. — Esperamos que a partir de 2012 a colheita da cana in natura já possa ser um crédito de carbono e o dinheiro recebido por ela deva ser revertido em capacitação dos bóias-frias para outras funções, por exemplo - falou Cerri.
Ele afirmou que os benefícios atuais são ambientais, pela redução do efeito estufa e da emissão de poluentes.
O Brasil está hoje em 17º lugar em emissão de gases de efeito estufa, sem considerar o desmatamento. Nesse caso, salta para o 5º lugar.
As análises são feitas há dez anos e são contínuas. — Temos pesquisas em todo o Brasil, na África e na Índia. Há alguns contatos para atuarmos também na China - falou Cerri.
Para a realização dos levantamentos, o Cena conta com a colaboração de pesquisadores visitantes do IRD (Institut de Recherche pour le Développement), da França e alunos de pós-graduação da Esalq.
Os resultados das pesquisas são apresentados a agricultores e produtores agrícolas em palestras e encontros para a conscientização dos benefícios ambientais que a forma de plantar e colher pode trazer. (Jornal de Piracicaba, 16/03)