ONG usa fotos para alertar sobre o clima
2005-03-15
Uma fotografia do monte Kilimanjaro despido de suas neves eternas pela primeira vez nos últimos 11 mil anos será apresentada hoje em Londres, durante um encontro de ministros dos principais países poluidores, como um testemunho dramático da mudança climática causada por atividades humanas.
Ministros do Ambiente e da Energia de 20 países se reúnem na capital britânica para debater a agenda ambiental a ser adotada pelo Reino Unido durante a sua presidência do G-8, o grupo dos sete países mais ricos do mundo mais a Rússia. Eles vão ganhar de presente um livro com fotos chocantes do Kilimanjaro (na Tanzânia), a montanha mais alta da África, entre outras imagens.
— Este é um alerta e uma mensagem inequívoca de que uma economia global com baixas emissões de carbono é algo necessário, possível de obter e acessível, disse Steve Howard, da organização não-governamental Climate Group, que organizou o livro.
— Nós estamos tirando a mudança climática do escaninho da questão ambiental. Esta crise afeta a todos nós. Esta é uma mudança global e nós precisamos de uma liderança global para lidar com esses problemas --e isso é algo que os ministros podem dar, afirmou Howard.
Grandes nações do Terceiro Mundo, como Brasil e México, também foram convidadas a participar do encontro. A ministra Marina Silva (Meio Ambiente) será representada por um técnico do ministério.
As fotografias do livro incluem uma do Kilimanjaro quase livre de gelo e de diques construídos nas Ilhas Marshall, ameaçadas de inundação. Ambas mostram efeitos já observáveis do aquecimento global, que está causando o derretimento progressivo de geleiras continentais e a elevação no nível do mar. No último século, a temperatura média da Terra já subiu cerca de 0,7ºC. Até o final deste século, a elevação deve ser de 1,4ºC a 5,8ºC, mais provavelmente por volta de 2ºC ou 3ºC. O Kilimanjaro é uma das vítimas mais célebres do aquecimento global. Os cientistas estimam que sua geleiras devam desaparecer completamente em 2020.
O premiê britânico, Tony Blair, colocou as mudanças climáticas e a África no topo de sua lista de prioridades para a presidência britânica tanto do G-8 quanto da União Européia --trazendo ambos os assuntos à tona numa cúpula em julho, na Escócia. O Protocolo de Kyoto, acordo internacional para reduzir as emissões dos gases que causam o aquecimento global (em especial o dióxido de carbono, produto da queima de petróleo e derivados), entrou em vigor no mês passado, mas os EUA, maior emissor do mundo, ficaram de fora.
Autoridades americanas estarão presentes à reunião em Londres, que tem como objetivo debater um plano para uma economia que possa crescer reduzindo as emissões de carbono.
— Há muitas tecnologias já prontas que podem ajudar nessa transição (para uma economia com menos emissões) imediatamente, disse uma diretora do Departamento do Ambiente britânico. (Folha, Reuters, 15/3)