WWF quer China consciente do problema florestal do planeta
2005-03-15
Por Violeta Artime, de Pequim
Pressionar as empresas para que comprem madeira legal e fomentar a reciclagem de artigos cotidianos são duas das medidas urgentes para evitar que a China se converta em depredador das florestas mundiais, disse na sexta-feira (11/3) um responsável do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), em entrevista concedida à EFE em Pequim. — É fundamental que o governo exija a varejistas e comerciantes que comprem madeira de procedência legal, com medidas como a aprovação de uma certidão padrão o mais rápido possível, afirmou Zhu Chunquan, diretor do programa florestal da WWF para a China.
Zhu é um dos autores do relatório publicado esta semana pela organização, que adverte que o aumento da demanda de madeira e polpa na China, o segundo consumidor mundial (já atrás dos EUA), repercutirá nas florestas de Rússia, América Latina e Sudeste Asiático. Grande parte dos recursos florestais da China foi destruído há séculos e a exploração exacerbada das últimas décadas acabou com boa parte dos sobreviventes, lembrou o diretor-geral de WWF, Claude Martin, durante a apresentação do estudo. A isso, se une a proibição de destruir florestas, adotada em 1998 sob o Programa de Proteção das Florestas Naturais (NFPP), depois das devastadoras inundações do rio Yangtsé, que deixaram milhares de mortos.
A demanda chinesa, que aumenta paralelamente ao crescimento econômico do país, teve que buscar recursos fora, sem preocupar-se muito com sua origem e convertendo-se, segundo os estudos de várias organizações internacionais, em um dos principais importadores de madeira ilegal do mundo Segundo Zhu, os compradores de madeira chineses provavelmente não mostrarão preocupação pelas credenciais ecológicas e legais de seus fornecedores sem a pressão da legislação ou do mercado. A cada vez maior insuficiência da provisão nacional, que em 2010 não conseguirá satisfazer nem à metade da demanda, levou a China a relaxar os controles sobre a maioria das importações de madeira.
Um dos exemplos foi o acordo de 1996 de uma política preferencial de taxas com Rússia, Vietnã e Mianmar (Birmânia).— Esta medida deve ser revisada, assim como a proibição total da poda de florestas, que expira em 2010 e que não é uma medida apropriada no que se refere às florestas de propriedade coletiva. Se as comunidades cumprem os modelos ecológicos e sociais de produção, o veto deveria ser levantado, ressaltou. Isso acontece porque economias comunitárias baseadas tradicionalmente na produção de madeira, de forma sustentável em muitas ocasiões, quebraram depois da proibição, ao ficar de fora dos subsídios, optando às vezes por recorrer à compra de madeira ilegal.
Ao mesmo tempo, a luta por evitar que seja confirmada a ameaça chinesa para as florestas do planeta passa por educar seus cidadãos em hábitos de consumo de papel e madeira menos esbanjadores. Existe um grande espaço para trabalhar na conscientização da sociedade, que até o momento não vê o vínculo entre a escassez de recursos do país e a atitude de esbanjamento, já que a provisão está garantida, não importa como, advertiu Zhu. O sistema de reciclagem ainda está engatinhando no país asiático e na vida diária é fácil observar a dilapidação de milhões de palitos (usados pelos chineses como talheres), papel, caixas e vasilhas, por isso o governo deveria adotar medidas para promover um consumo poupador. Por exemplo, restringindo o uso de palitos descartáveis.
A China é o principal consumidor, produtor e exportador deste produto e, segundo os estudos, precisa de 25 milhões de árvores ao ano para fabricar 45 milhões de palitos, dois terços para uso doméstico e muito poucos dos quais são reutilizados. Embora Rússia, Malásia e Indonésia sejam os principais fornecedores do gigante asiático, as importações da América Latina crescem, sobretudo as de polpa do Chile, da qual a China é o principal cliente, e do Brasil, mas também da Argentina, que poderia converter-se em um importante fornecedor.
— O aumento dos negócios entre a China e a América Latina é bom, mas é fundamental animar a cooperação ecológica. É preciso considerar como evitar o dano florestal, o impacto negativo que poderia ter o aumento da demanda chinesa, por exemplo, nas florestas brasileiras, de alto valor ecológico, disse Zhu.
O vertiginoso crescimento econômico do gigante asiático levanta vários perigos para a sustentabilidade não só do país, mas também do planeta, ao contar, em pouco tempo, com uma população de 1,3 bilhão de habitantes ansiosa por consumir.