Como evitar efeitos da seca no futuro
2005-03-14
A maior estiagem a assolar o Rio Grande do Sul nos últimos 62 anos não revelou apenas leitos secos de rios e lavouras queimadas pelo sol.
A escassez de chuvas que levou 427 municípios a decretarem estado de emergência até sexta-feira e lançou 54 cidades ao racionamento de água escancarou a urgência de se encontrar medidas definitivas para reduzir o sofrimento imposto aos gaúchos por novas situações de seca prolongada.
- Nós não conhecemos a fundo as nossas bacias hidrográficas. Temos de estudar seriamente o uso da água e pensar em formas de melhorar seu uso no futuro, sem esquecer tudo quando esta estiagem acabar - ressalta o professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e doutor em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental Marco Antônio Hansen.
Para o pesquisador, a qualidade do abastecimento passa principalmente pelo controle do uso agrícola dos recursos hídricos, pois 89% do consumo de água no Estado, em média, é representado pela irrigação - no país, esse índice fica em 69%.
É consenso a inexistência de soluções mágicas para resolver os problemas de falta de água. Além da responsabilidade do poder público em fazer obras de infra-estrutura e regulamentar e controlar o uso da água, a iniciativa privada e o usuário doméstico desempenham papel importante para evitar desperdícios. A multiplicação de ações individuais, mesmo que modestas, acabam gerando um efeito global.
Nas indústrias paulistas, por exemplo, é crescente o número de empresas que investem no tratamento de efluentes, reuso, captação de água da chuva e redução no consumo.
- A partir do apagão a sociedade passou a ver que era possível economizar energia. Agora, se está vendo que é possível também reduzir em 20%, 30%, 50% ou mais o consumo de água - explica Anicia Baptistello Pio, especialista em recursos hídricos da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).
Medidas importantes na agricultura
Monitoramento
- Receita testada e aprovada pelos sojicultores paranaenses - e altamente recomendada para o Rio Grande do Sul -, a agricultura de precisão representa redução de custos e menos riscos de sofrer os efeitos do clima. O monitoramento de superfície, realizado por estações meteorológicas automáticas (fixadas no solo) é mais pontual e detalhado do que fazem as estações convencionais. Os dados de umidade do ar, pressão atmosférica e temperatura, entre outros, são coletados e cruzados com as séries históricas de comportamento da região.. Com isso, se consegue fazer previsões particularizadas para pequenas áreas, além de recomendações sobre manejo.
Diversificação de culturas
- A diversificação de culturas é especialmente importante para as propriedades de caráter familiar. A produção de outras variedades para consumo próprio além da atividade principal pode reduzir os prejuízos de quem perde uma lavoura inteira. É verdade que, em casos mais severos, quase nada resiste à seca, mas como as culturas têm épocas de colheita e teor de resistência à seca diferentes, é possível economizar dinheiro no supermercado ou mesmo vender algum produto para quem não tem. Muitos produtores estão abandonando a vocação de subsistência para aumentar as áreas com milho ou soja, que em anos anteriores deram maior retorno financeiro.
Cisternas
- Tão antigas como o Velho Testamento, as cisternas são soluções simples e práticas que minimizam o sofrimento das famílias rurais. O sistema de captação e armazenamento de água da chuva por meio de calhas pode prolongar o abastecimento não só das pessoas, mas também de pequenos animais.
Fontes: Homero Bergamaschi e Genei Dalmago, professores do Departamento de Agrometeorologia da UFRGS, Francisco Aragão, pesquisador da Embrapa, Salassier Bernardo, professor do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual do Norte Fluminense (RJ), Dulphe Pinheiro Machado Neto, técnico da Emater, e Rodrigo Tsukahara, coordenador da Fundação ABC (PR). (ZH 13/03)