Pacote protegerá animais em rodovia
2005-03-10
Ponto de uma das maiores incidências de atropelamentos de animais silvestres, a rodovia BR-020, pode ser a primeira estrada do DF dotada de medidas para evitar a mortandade da fauna pelos automóveis. Para a duplicação de um trecho de 12 quilômetros da rodovia, às margens da Estação Ecológica de Águas Emendadas, o Ibama pretende condicionar o licenciamento ambiental da obra à implantação de mecanismos que evitem os acidentes. A reserva, de 10 mil hectares possui uma das maiores biodiversidades entre as unidades do DF.
Dados da Associação para Conservação dos Carnívoros Neotropicais (Pro-Carnívoro) trazem dados alarmantes sobre o poder destrutivo dos automóveis na fauna. Da abril de 2001 a abril 2002, os pesquisadores da entidade identificaram 2.464 vertebrados atropelados nas quatro rodovias que circundam a Estação de Águas Emendadas. Estima-se, entretanto, que o número de animais atropelados e mortos na região seja ainda maior.
– É uma subestimativa. O monitoramento era feito três vezes por semana e acreditamos que muitos deixaram de ser contados nos dias em que não íamos a campo - explica Flávio Rodrigues, pesquisador do Pró-Carnívoros e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
As obras de duplicação serão executadas pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER) em um trecho de 12 quilômetros entre o trevo de acesso a Planaltina e a divisa do DF com Goiás. O empreendimento recebeu a licença prévia do Ibama em 23 de dezembro em que constam as condicionantes de que o DER estude meios de atenuar o problema de atropelamentos nos arredores da Estação de Águas Emendadas.
– Com a duplicação da rodovia, se as medidas adequadas não forem tomadas o problema pode se agravar ainda mais, tendo em vista que haverá o dobro da distância para ser atravessado - justifica a coordenadora do Núcleo de Unidades de Conservação do Ibama no DF, Paula Mochel.
Entre as medidas de prevenção, o Ibama pede ao DER a utilização dos quatro cursos de águas que passam sob a rodovia como corredores para a fauna. Haverá cercas às margens da estrada, servindo para direcionar os animais aos túneis e evitar que cruzem a pista. A licença prévia pede ainda que estejam previstos mecanismos de controle de velocidade, como radares, e a redução da velocidade máxima de 80 km/h para 60 km/h.
Ameaçado de extinção, o lobo-guará deve ser uma das espécies beneficiadas pelos mecanismos. Durante quatro anos, Rodrigues estudou os animais na estação e seus arredores. Encontrou, no processo, 18 animais mortos nas margens das rodovias: uma média de 4,5 por ano. Na mesma região, a população identificada pela pesquisa era de apenas cinco casais de lobos-guará, que utilizavam o território da Estação de Águas Emendadas.
– Se considerarmos que cada um desses casais tem dois filhotes por ano, metade da produção dos filhotes está sendo perdida nas estradas - lamenta Rodrigues. (JB 09/03)