Mata Atlântica terá mapeamento inédito
2005-03-09
A Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados de desaparecimento no mundo, vai ser alvo de um mapeamento inédito realizado por um grupo de pesquisadores do Rio. Marcado para iniciar no mês que vem, o levantamento segue os moldes do projeto Biota, desenvolvido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e pretende enumerar e localizar todas as espécies vegetais e animais da região.
A proposta é expandir o inventário aos outros oito Estados brasileiros onde há remanescentes da mata, reduzida a 10% da área original de mais de 1 milhão de quilômetros quadrados. Proposta pela secretária Estadual de Ciência e Tecnologia do Rio, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj), a Rede Mata Atlântica pretende incentivar a realização de pesquisas no bioma, destacando o lado comercial. No caso das espécies vegetais, a idéia é identificar as plantas que possuem viabilidade econômica para, posteriormente, conseguir financiamentos e realizar projetos de biotecnologia.
– Vamos fazer a localização das espécies por georeferenciamento (identifica latitude, longitude, altitude). Uma vez detectadas plantas de interesse comercial na área de cosméticos, medicamentos e essências, poderemos apoiar projetos para propagar as referidas espécies em viveiros e plantações, por meio da biotecnologia, detalhou ontem o secretário Wanderley de Souza.
Responsável pela coordenação da área de botânica do mapa, Paulo Guimarães, do Jardim Botânico, ressaltou a riqueza da Mata Atlântica. – Ao contrário do que muita gente pensa, não é a Amazônia que concentra a maior biodiversidade vegetal do País. Lá, a parte de água e exuberância é mais rica, mas a Mata Atlântica possui um variedade maior, ressalta. Cerca de 40% das espécies não arbóreas e 55% arbóreas são endêmicas. Isso quer dizer que uma, entre cada duas espécies, ocorre exclusivamente naquele local.
Na parte da fauna, serão desenvolvidos, inicialmente, dois projetos de reprodução animal, ambos com espécies em risco de extinção, o muriqui, o maior primata da América Latina, e a paca. As pesquisas serão realizadas em parceria com o Centro de Primatologia do Rio de Janeiro, a Universidade Estadual do Norte Fluminense e o Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
– Além das técnicas usuais, serão adotados outros procedimentos mais avançados para repovoarmos a área com esses dois animais. No caso das pacas, elas vêm diminuindo muito em número por causa da caça predatória, disse Souza, acrescentando que a Rede Mata Atlântica está orçada em R$ 4 milhões, recursos que serão repassados pela secretaria, Faperj e Ministério da Ciência e Tecnologia. (Estadão, 08/03)