Cientistas condenam gastos do governo dos EUA com biodefesa
2005-03-07
Uma carta aberta de 750 cientistas americanos, a ser publicada na próxima edição da revista Science, atacou os gastos do governo George W. Bush com o estudo de micróbios que poderiam ser usados em bioterrorismo, como o da peste bubônica e o do antraz.
A crítica dos signatários, entre os quais dois vencedores do Nobel, está endereçada a Elias Zerhouni, diretor do NIH (Institutos Nacionais de Saúde, na sigla inglesa). Ela se refere especificamente a uma resolução tomada em 2001 (ano do ataque terrorista ao World Trade Center) pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid), órgão subordinado ao NIH.
A resolução determinava que as pesquisas de biodefesa passariam a ser prioritárias. Entre os microrganismos cujo estudo o governo passou a patrocinar estão as bactérias do antraz, da peste bubônica, da tularemia e da brucelose.
Segundo os cientistas, o estudo de tais micróbios teve aumento de de 1.500% em número de linhas de financiamento (de 33 para 497) desde 2001. –No mesmo período, houve uma saída maciça de financiamento, instituições e pesquisadores dos trabalhos com fisiologia, genética e patogênese microbiana sem relação com biodefesa, escrevem os pesquisadores. A queda teria chegado a 41% -de 490 para 289 linhas de financiamento, apontam eles.
Segundo os signatários da carta, a prática atrapalha projetos vitais para a saúde pública e representa um direcionamento errado das prioridades do NIH e uma crise para a pesquisa microbiológica.
O organizador do protesto, Richard Ebright, da Universidade Rutgers, afirmou ao site da rede britânica BBC que a estratégia do governo Bush poderia até ser contraproducente na luta contra o terrorismo. Seria mais fácil, segundo ele, estudar micróbios já bem conhecidos, como a bactéria Escherichia coli, e então aplicar os conhecimentos obtidos com eles nos demais microrganismos. –O mesmo investimento e o mesmo tempo, se aplicados num burro de carga de laboratório como a E. coli, teriam um impacto muitíssimo maior, disse ele.
John McGowan, do Niaid, criticou os números da carta e afirmou que eles poderiam induzir ao erro. Segundo ele, a análise deixou de lado várias áreas de estudo que a instituição financia. (FSP 03/03)