Moinhos de vento podem suprir boa parte da energia global e preencher as paisagens do mundo do futuro
2005-03-04
A energia eólica é mais barata e imediatamente competitiva, mas também tem limites. Está longe de ser igualmente confiável em todas as partes do planeta, usá-la em grande escala implica cobrir vastas áreas com moinhos de vento e não é infinita: o potencial mundial foi estimado em 10 mil gigawatts, 75% do atual consumo global de energia, mas apenas 10% da demanda de uma hipotética humanidade futura com padrão de consumo semelhante ao dos EUA.
A alternativa geotérmica é restrita a áreas com vulcanismo adequado, como a Islândia. A energia das marés é outra alternativa geograficamente limitada, principalmente para América do Norte, Rússia, Reino Unido e França. A alternativa hidrelétrica já está em boa parte esgotada.
Muitos especialistas em energia julgam que o futuro não poderá dispensar a energia nuclear, que permite gerar vastas quantidades de energia em pequenos espaços sem produzir gases que agravem o efeito estufa e muitos ecologistas respeitados concordam em que ela é um mal muito menor que o petróleo.
Um deles é James Lovelock, autor da chamada Teoria de Gaia. Para ele, se o mundo pudesse esperar mais 50 anos, seria possível apostar na energia solar ou em outras alternativas, mas não há mais tempo para experimentar. A opção nuclear é a única imediatamente disponível, seus riscos são insignificantes se comparados aos do aquecimento global e a oposição a seu uso é irracional. Aliou-se à Associação dos Ambientalistas a favor da Energia Nuclear (AAEN – http://www.ecolo.org), fundada pelo francês Bruno Comby.
Para a maioria dos verdes, porém, as usinas atômicas continuam a ser anátema. Sua posição, tão pacifista quanto ambientalista, vem de uma época em que o risco mais imediato de catástrofe ecológica era a guerra nuclear – como registra o próprio nome de sua mais conhecida organização, o Greenpeace, fundado por pacifistas que velejaram em uma área de testes nucleares no Alasca, em 1971.
Que essas razões sejam históricas, porém, não significa que sejam obsoletas. Hoje, o risco de uma guerra nuclear global parece ter diminuído em relação aos piores períodos da Guerra Fria, mas isso pode ser uma ilusão. Aumentou o número de países com acesso à tecnologia nuclear e o governo dos EUA hoje se julga no direito de usar armas nucleares até mesmo contra países que não as possuem. Mesmo novos modelos de usinas que supostamente não correm risco de derretimento do reator continuam a produzir resíduos que se mantêm perigosamente radioativos por 10 mil anos. (Carta Capital º 331)