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2005-03-04
Nenhuma alternativa aos combustíveis fósseis é perfeita, mas nada pode ser pior do que adiar indefinidamente sua substituição. Enquanto o mundo vislumbra um futuro brilhante, alimentado por tecnologias milagrosamente limpas e eficientes, é preciso pôr os pés no chão: mesmo que fosse possível, por um passe de mágica, deter hoje o consumo de combustível fóssil e a emissão de gás carbônico em todo o mundo, mil anos se passariam antes que a atmosfera da Terra voltasse a ser o que era antes da era industrial. A cada ano que continuamos a usá-los, pioramos o problema que será deixado para nossos filhos e netos.

O primeiro risco é o de que o petróleo seja substituído por alternativas ainda mais poluentes. Nos anos 60 e 70, quando a preocupação não era o efeito estufa e sim o preço e o risco de esgotamento do petróleo, outros combustíveis fósseis foram cogitados para substituí-lo: carvão, xisto betuminoso e gás natural, por exemplo.

O gás natural é, à primeira vista, mais amigável, pois sua combustão emite menos subprodutos corrosivos e tóxicos. Veículos e termoelétricas a gás são menos ruins para a saúde das metrópoles do que seus equivalentes a diesel, gasolina ou petróleo. Do ponto de vista do efeito estufa, porém, pouco ajudam.

Ao ser queimado, o gás natural gera metade da quantidade de gás carbônico que o petróleo para a mesma energia, mas o próprio combustível (basicamente metano) é 25 vezes mais potente como agente do efeito estufa que o produto de sua combustão. Mesmo um vazamento de 2% (ao longo dos poços, gasodutos, bombas, veículos, fogões etc.) anula a vantagem que poderia oferecer. Álcool e Biodiesel O álcool e o biodiesel têm a vantagem, nada desprezível, de não aumentar a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera. Claro que esses combustíveis, tanto quanto os derivados de petróleo, transformam-se nesse gás ao ser consumidos, mas as novas safras, ao ser replantadas, voltam a absorvê-lo. Álcool e óleos vegetais também podem substituir o petróleo em várias aplicações petroquímicas. Também é possível aproveitar energeticamente o biogás (metano) produzido naturalmente pela decomposição de resíduos humanos e agrícolas.

Entretanto, a produção de combustíveis orgânicos emite um volume considerável de dejetos (no caso do álcool de cana, o famigerado vinhoto) e a área de plantação de cana e oleaginosas necessária para suprir as necessidades de combustíveis no mundo seria grande demais.

As plantas são inerentemente pouco eficientes como fonte de energia, pois destinam grande parte da energia que absorvem do Sol a seu próprio crescimento, não a gerar combustíveis úteis para seres humanos. A cana, usada pelo Brasil, é muito mais eficiente que o milho, adotado pelos EUA, mas ainda assim converte em energia combustível apenas 3,3% da energia solar que absorve.

Calcula-se que, direta ou indiretamente, a humanidade já domesticou cerca de 40% dos processos de fotossíntese que ocorrem na superfície dos continentes para suas próprias necessidades, incluindo alimentos, madeira e pastagens. Considerando que um carro consome 10 a 30 vezes mais carbono que seu motorista, não é difícil deduzir que não se pode ir muito longe nessa direção.

A solução biológica pode ser uma forma rápida de atender a uma parte considerável das necessidades de países tropicais e com população não muito densa, como o Brasil, e também uma forma emergencial de amenizar o problema ambiental em países mais industrializados. Mesmo assim, não resolve o problema global.

Células fotovoltaicas, que não precisam consumir energia para crescer, podem ser muito mais eficientes que as plantas. Por isso, a energia solar é a favorita da maioria dos ambientalistas. A eficiência da conversão direta da luz do Sol em energia elétrica é hoje de 12%, o que permite gerar 200 quilowatts-hora por metro quadrado por ano em países temperados. (Carta Capital nº 331)

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