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2005-03-04
A julgar pelo estágio de desenvolvimento das fontes de energia alternativa no Brasil e no mundo, a saída mais imediata e viável do ponto de vista econômico para enfrentar a escassez de petróleo e combater o efeito estufa é racionalizar o próprio consumo de combustíveis fósseis. Buscar a eficiência energética e combater o desperdício são as ferramentas mais ao alcance da mão hoje, sem que tenhamos que alterar drasticamente os atuais modos de produção. Já num futuro mais distante, o cenário torna-se bem mais complexo. A não ser que uma tecnologia salvadora caia dos céus num curto espaço de tempo, é possível que o mundo tenha de rever conceitos e quebrar os pilares com os quais erigiu o modelo econômico dominante em que vive, perseguidor do contínuo crescimento como única forma de gerar benefícios à sociedade.

As fontes renováveis de energia são ótimas soluções se comparadas às fontes não renováveis que, além de finitas, poluem o ar e causam mudanças climáticas. Mas ainda estão para nascer modalidades que podem ser de fato consideradas limpas. Todas elas apresentam limites, falhas, imperfeições ou impactos ambientais que o atual conhecimento tecnológico ainda é incapaz de corrigir, mesmo depois de ter ficado explícita a crise energética mundial que se avizinha. Para José Goldenberg, secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e ex-secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, bastaria o preço do petróleo dobrar para que as fontes alternativas se tornassem viáveis e florescessem como participantes primordiais da matriz energética mundial. Já Oswaldo Martins, coordenador de projetos do Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio), ligado a USP, questiona: - O desenvolvimento tecnológico caminha a uma velocidade bem menor do que deveria Poderá até haver uma solução, mas se formos esperar o mercado viabilizar o custo das renováveis, pode ser tarde demais.

Marginalmente e ainda de modo descentralizado, o País dedica-se a desenvolver fontes de energia ditas alternativas, orgulhosos de já possuir a maior parte de sua oferta de energia elétrica proveniente de hidrelétricas, ainda que o petróleo responda pela maior parte da fonte de energia para transporte.

Como alternativa imediata à energia hidrelétrica, o Brasil optou por ampliar a participação do gás natural na matriz, seguindo a tendência mundial que vê esse combustível como principal substituto imediato do petróleo. E que é encontrado na Bolívia, Rússia, Argélia, África, Argentina e, no Brasil, em Santos. – O gás, no entanto, vai apenas adiar o problema do esgotamento do petróleo por no máximo 20 ou 30 anos, para depois acabar também – diz Goldenberg.

Nenhum outro país tem ao mesmo tempo grande disponibilidade de terras e condições propícias ao plantio de cana-de-açúcar como o Brasil, que se dedica ao estudo da planta há décadas por meio da Embrapa. Os Estados Unidos hoje desenvolvem etanol do milho, mas a sua eficiência energética é inferior à da cana-de-açúcar. O etanol interessa aos EUA, pois trata-se de valiosa fonte para extrair o hidrogênio que move as células a combustível: é renovável e não causa efeito estufa como o gás natural, outra fonte de obtenção do hidrogênio.

Segundo Gilberto Januzzi, professor na área de Planejamento Energético da Unicamp, e que já trabalhou no Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), o governo federal mantém restrições orçamentárias que impedem o maior avanço das pesquisas em fontes renováveis: - O Brasil é um dos poucos países do mundo que destinam parte do dinheiro das vendas das concessionárias de energia para constituir um findo setorial de energia (CT Energ). Arrecada R$ 400 milhões por ano, mas só usa uma parte desses recursos. Além disso, Januzzi afirma que caberia ao MCT estabelecer diretrizes e uma coordenação efetiva das pesquisas que são feitas País afora: - Como pesquisador nessa área, noto dificuldades de coordenação e a falta de interface dos cientistas com indústria e os setores de consumo.

A energia solar nem sequer é contemplada no Proinfa, uma vez que ainda apresenta pouca viabilidade econômica. Segundo Goldenberg, as células fotovoltaicas – com as quais os satélites artificiais funcionam – são quatro ou cinco vezes mais caras que a energia convencional. Rafael Schechtman, diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), diz que o maior problema da energia solar, assim como da eólica e da biomassa é a baixa densidade de energia. Assim, é necessário ocupar áreas muito grandes para gerar uma determinada potência energética, o que traz limitações físicas e eleva o valor dos investimentos. (Carta Capital, n° 331)

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