Inquérito deixa dúvidas no Pará
2005-03-01
Apenas dezesseis dias depois do assassinato da missinária Dorothy Stang no município de Anapu, no Pará, as polícias Civil e Federal concluem hoje o inquérito sobre a morte da freira. Apesar de já ter prendido cinco pessoas, o possível mandante do crime, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, ainda está foragido. Líderes e técnicos atuantes na região afirmam que ainda há outros mandantes soltos.
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Na sexta-feira, o delegado da Polícia Federal em Altamira (PA), Ualame Machado, explicou que o curto prazo para a entrega do inquérito poderia prejudicar as investigações, apesar das suspeitas de um possível consórcio, formado por grileiros, fazendeiros e madeireiros, para pagar os R$ 50 mil que teriam sido prometidos aos pistoleiros.
Para o frei Henri des Roziers, da Comissão Pastoral da Terra do Pará, a precipitação da conclusão do inquérito é suspeita.
– É estranho precipitar a conclusão do inquérito já que ainda há muitas investigações a se fazer. Se o delegado quiser, ele consegue um prazo maior. Faz 15 dias que ela foi assassinada. Um inquérito tão difícil e grave como este, no qual - ao que tudo indica - há outros grupos poderosos envolvidos, não pode terminar tão rápido. Essa conclusão será para dar ruma satisfação superficial e populista à população.
A preocupação com o encerramento do inquérito atinge também os ambientalistas. Segundo o coordenador de áreas protegidas da campanha da Amazônia do Greenpeace, Carlos Rittl, é fundamental que as investigações prossigam: – Se o inquérito for encerrado amanhã (hoje), esperamos que as investigações não parem. Havia muitos interesses econômicos na área e o término do inquérito pode precipitar uma conclusão inadequada, apenas parcial sem se chegar a todos os envolvidos. A irmã Dorothy apresentou denúncias com o nome de várias pessoas o Bida era apenas um deles. Ele não era o único interessado.
A existência de um consórcio para pagar os R$ 50 mil, não é descartada, mas, para o padre Henri, esse valor não é alto para os fazendeiros da região. Eles nem precisariam se juntar para obter a quantia. – Há um esquema muito maior do que se pensava. Às vezes os fazendeiros são multados em mais de R$ 160 mil em casos de trabalho escravo e pagam sem problema. Para eles, seria ridículo, então, se preocupar em quem iria pagar os R$ 50 mil.
Frei Des Roziers acredita ainda que esse valor seria destinado apenas a pagar o serviço de execução. Para ele, Bida deve ter recebido uma soma maior para ficar como mandante.
– Tem muito mais dinheiro envolvido. Para ter conseguido escapar, até agora, das polícias Civil, Federal e do Exército, o Bida não está sozinho. Ele certamente está com apoio de outras pessoas, pois é claro que nesse tipo de crime não é um pequeno como o Bida que vai estar por trás.
Apesar da afirmação do delegado da Polícia Federal, Ualame Machado, de que não está descartada a existência do consórcio, o delegado da Divisão de Operações Especiais da Polícia Civil paraense, Valdir Freire, garante que até o momento não levantou nenhums pista nesse sentido.
– O que se pode falar é de reunião de pessoas para eliminá-la. E elas se limitam aos que já foram presos e ao foragido.
Segundo ele, hoje termina o prazo legal para conclusão o processo apuratório, porque se completam dez dias da prisão do primeiro réu, Amair Feijoli da Cunha, o Tato, acusado de ser o intermediário do crime. Para o delegado, isso não impedirá a continuidade da investigação: – A polícia vai fazer a investigação complementar necessária para reunir provas que levem ao completo esclarecimento do caso - promete.
O delegado não dá maior importância às acusações do frei Henri e do dirigente do Greenpeace.
– Quem é incumbido de apurar, pela Constituição, é a Policia Civil. As outras entidades têm o direito de especular, mas nós temos a responsabilidade de apurar. (JB 28/2)