Ao mesmo tempo em que desnuda os rios ao longo do Estado, a seca expõe uma vergonha social normalmente escondida: o lixo acumulado ao longo dos leitos. Para se ter uma idéia, em apenas três dias o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) de Porto Alegre recolheu da orla do Guaíba 40 toneladas de lixo - peso equivalente ao de 10 elefantes.

A operação que ocorreu em janeiro e deve se repetir na próxima terça-feira faz parte dos esforços para tentar conter a poluição, mas se revela tímida diante do volume de resíduos. Um universo de plásticos, pneus, esgotos e até móveis e carcaças de automóveis prolifera em meio à escassez. Segundo o professor Carlos Tucci, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, de 5% a 10% do lixo produzido diariamente por pessoa acaba indo para os rios, dependendo da infra-estrutura de coleta de cada município. Considerando-se o patamar mínimo, numa cidade como Porto Alegre a quantidade chegaria a 40 toneladas - o mesmo do que o recolhido pelo DMLU em três dias. Entre 60% e 70% desse volume é de plástico.

– Na Europa, os supermercados vendem as sacolas plásticas ou nem oferecem, forçando o consumidor a trazer de casa. Assim as pessoas dão mais valor para o plástico e não botam fora, observa Tucci. Vizinho de um efluente do Rio Gravataí no bairro Americana, em Alvorada, André Corrêa da Silva, 21 anos, enfrenta no cotidiano as conseqüências desse desrespeito ambiental. Além da escassez, precisa suportar o mau cheiro da água. Com a pouca vazão da água, o esgoto se acumula.

O maior problema, na avaliação do engenheiro Dante Larentis, do Departamento Estadual de Recursos Hídricos, é a diversidade de fontes de poluidoras. – As pessoas não se dão conta de que estão poluindo os rios quando jogam lixo na rua. E também falta saneamento, então a chuva carrega todos os resíduos para lá, adverte Larentis. Segundo o tenente-coronel Valmor Araújo de Mello, comandante do grupamento, a multa por poluição hídrica varia conforme o dano ambiental, podendo alcançar valores de R$ 300 mil. (ZH 27/2)