Francês propõe na OMC gestão coletiva da Amazônia
2005-02-28
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reagiu com indignação à proposta do candidato da União Européia (UE) à diretoria-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o francês Pascal Lamy, de que sejam criadas regras para a gestão coletiva da Amazônia e outras florestas tropicais. A visão de Lamy, segundo o chanceler brasileiro, é preconceituosa e incompatível com o posto que o ex-comissário de Comércio da UE pretende assumir.
– O ministro Amorim considera que as declarações do senhor Pascal Lamy sobre o status jurídico das florestas tropicais e outros recursos naturais revelam uma visão preconceituosa, que subestima a capacidade dos países em desenvolvimento de gerenciar, de forma soberana e sustentável, os seus recursos naturais, diz um trecho de um comunicado divulgado no início da noite de ontem pelo Itamaraty. – Tais declarações são incompatíveis com o cargo de diretor-geral da OMC, ao qual o senhor Lamy aspira, conclui a nota. Amorim enviou seus comentários ao Itamaraty durante a viagem à países árabes.
Lamy: florestas seriam tratadas como bens públicos
A proposta de Lamy foi feita na conferência para diplomatas e especialistas na sede da Organização das Nações Unidas (ONU). Para ele, as florestas tropicais devem ser tratadas como bens públicos mundiais. Depois da palestra, Lamy disse aos jornalistas que, se a floresta tropical tornar-se bem público, certas regras coletivas de gestão poderiam ser criadas. Mas ele fez questão de dizer que, nesse caso, não seria colocada em xeque a questão da propriedade.
Lamy e o representante do Brasil na OMC, embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa, são os mais fortes candidatos à diretoria-geral do organismo na eleição de maio. Disputam o posto ainda o uruguaio Pérez del Castillo e o ministro de Negócios Estrangeiros das Ilhas Maurício, Jaya Krishna Cuttaree.
Pascal Lamy evitou falar em internacionalização da Amazônia, tema sensível para o Brasil e outros países sul-americanos, e reiterou que não tem intenção de ferir o direito à propriedade. Segundo transcreveu ontem o jornal O Estado de S. Paulo, Lamy lembrou que o status jurídico das florestas tropicais sempre provoca controvérsia.
Polêmica para esquentar a eleição e ajudar brasileiro
A polêmica pode esquentar o frio processo eleitoral da OMC. Fontes das diplomacias brasileira e européia acreditam que, como a eleição tem que ser por consenso e existem quatro candidatos, a tendência é que, na etapa seguinte, restem Lamy e Seixas Corrêa no páreo. A reação do governo brasileiro, portanto, foi além da defesa da soberania nacional: teve um tom político e provocador. Tanto é assim que Amorim, ao determinar a divulgação do comunicado pelo Itamaraty, procurou vincular a atitude de Lamy à sua candidatura. (O Globo 25/2)