Ambientalistas na mira do crime no RJ
2005-02-25
Dionísio Júlio Ribeiro não é a primeira pessoa morta ou ameaçada de morte por atuar em defesa do meio ambiente no Estado do Rio. A Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Assembléia Legislativa divulgou uma lista com três nomes de pessoas assassinadas e sete ameaçadas de morte. O número, no entanto, pode ser muito maior. Enquanto a cobertura do crime de Nova Iguaçu foi realizada, o JB chegou a outros nomes que não constavam da lista da comissão - Luiz Henrique dos Santos Teixeira e Edil Polido, dois amigos de Dionísio ameaçados de morte, e Fernando, morto em 1998.
O próximo alvo dos criminosos, de acordo com Miguel da Silva, representante da Região Sudeste no Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), é Márcio Castro das Mercês. O agente florestal do Ibama na Reserva Biológica do Tinguá é membro do Grupo de Defesa da Natureza (GDN) e amigo de Dionísio há anos. Márcio já foi vítima de quatro atentados a tiros, dos quais escapou ileso, além de um apedrejamento. Ele denuncia a caça predatória e a exploração irregular de palmito, além de casos de conivência do próprio Ibama. O chefe da Reserva Biológica do Tinguá, Luiz Henrique dos Santos Teixeira, diz que recebe recados ameaçadores constantemente. Segundo ele, 12 funcionários do parque pediram ontem proteção policial.
Entre 1997 e 2000, o ambientalista Rogério Rocco, da ONG Os Verdes, foi ameaçado por impedir construções na faixa marginal de proteção de rios quando ocupava o cargo de secretário-assistente de Assuntos Ambientais de Niterói. Certa vez, todas as saídas do prédio em que trabalhava foram trancadas com cadeados. Minutos depois de descobrir as trancas, um telefonema confirmou a autoria da ação.
O ambientalista Edil Polido, amigo de Dionísio Júlio, luta há 20 anos pela preservação das águas de Adrianópolis, Nova Iguaçu. Em 2001, liderou uma campanha contra a instalação de um aterro sanitário próximo à Reserva de Tinguá. Nesse ano, Edil teve uma caminhonete D-20 roubada perto de casa, por três homens armados de fuzis. Eles o ameaçaram e fugiram.
Durante dois anos, de 1989 a 1991, o biólogo Mário Moscatelli foi diretor do Departamento de Controle Ambiental de Angra, uma espécie de secretário de Meio Ambiente. Na briga para preservar os manguezais e regular o uso da zona costeira, foi vítima de quatro ameaças de morte.
Gerhard Sardo, ambientalista de Niterói, já foi ameaçado cinco vezes por defender o Parque Estadual da Serra da Tiririca e da Área de Proteção Ambiental (APA) de Maricá, denunciando ocupações irregulares de posseiros na Praia do Sossego. Marco Aurélio de Oliveira Paes, chefe de fiscalização do Instituto Estadual de Florestas, vem sofrendo há nove meses ameaças anônimas por telefones e cartas.
Hermano Reis, membro do Comitê de Defesa da Ilha Grande, em Angra dos Reis, recebe ameaças de posseiros e empresários responsáveis por ocupações irregulares na ilha. Em Itatiaia, Léo Nascimento, diretor do Parque Nacional de Itatiaia, enfrenta palmiteiros e as patrulhas do Ibama são freqüentemente recebidas a tiros quando rondam o parque.
Álvaro Marques de Oliveira, advogado e fundador da ONG Serena, foi morto em 23 de fevereiro de 1999, em Angra dos Reis, por denunciar o desmatamento ilegal de manguezais. O crime ainda não foi solucionado. Na época, a linha de investigação da polícia e do Ministério Público de Angra foi a de que a motivação do assassinato teria sido uma disputa de posse pela Ilha de Sandri, na divisa dos municípios de Angra e Paraty. No ano anterior, Álvaro escapara ileso de um atentado, quando um homem disparou vários tiros contra sua casa na ilha.
Seu Edu, morto em Maricá, em 1993, combatia o roubo de areia nas praias da região. As denúncias feitas por Seu Edu acusavam a formação de uma cratera pela extração de areia da Praia de Itaipuaçu. Apontava também diversos loteamentos irregulares em áreas da Mata Atlântica. Até hoje sua morte não foi esclarecida.
O sargento Amauri, do Batalhão de Polícia Florestal e Meio Ambiente, foi assassinado em Itaperuna, em 1992, ao tentar coibir a pesca predatória em uma fazenda da cidade.
Fernando, da ONG Univerde, de São Gonçalo, foi apedrejado até a morte no Terminal Norte de Niterói, em 1998. Ele denunciava invasões de manguezais na Baía de Guanabara. (JB 24/2)