Bagunça fundiária atrapalha extração sustentável de madeira
2005-02-23
A falta de propriedades documentadas condena a Amazônia a ser devastada por ladrões de terras. Hoje, a região é ocupada por pecuaristas, que se apossam dos lotes, expulsando pequenos lavradores e ribeirinhos. Os grandes fazendeiros, associados a madeireiras predatórias, retiram as árvores de valor da floresta e depois derrubam a mata para plantio de pastagens. A pecuária extensiva, sobre as cinzas da floresta, gera pouca renda e emprego escasso.
Mas a história não precisaria ser assim. Um grupo de empresas, voltadas principalmente para a exportação, está provando que a floresta, explorada racionalmente, fornece madeira, lucro e trabalho eternamente. Essas madeireiras têm a certificação ambiental, que atesta a prática sustentável. Vendem US$ 560 milhões por ano.
O problema é que os empresários sérios, que só tiram da floresta aquilo que ela repõe naturalmente, precisam de terras legalizadas para construir seus negócios. Hoje, isso é mais raro que ouro. – Só não existem mais projetos certificados na Amazônia porque os empresários não têm área documentada para trabalhar, reclama Idacir Peracchi, proprietário da Juruá Florestal, que tem 40.000 hectares certificados no Pará. Hoje é praticamente impossível exportar sem o selo ambiental. Por isso, embora tenha a maior floresta tropical do mundo, o Brasil ocupa apenas 2% de um mercado que movimenta US$ 18 bilhões por ano.
A procura por madeira certificada também cresce dentro do país. Foi o que levou a Ecolog, empresa de construção civil de São Paulo, a entrar no ramo florestal. A construtora comprava madeira de comunidades certificadas no Acre e em Rondônia. Mas elas não tinham escala para suprir a demanda. – Resolvemos adquirir uma floresta e aí começou a dor de cabeça. Procuramos áreas em quatro Estados da Amazônia e só achamos em Rondônia, lembra Juarês Deltrejo, diretor-técnico da Ecolog. A empresa ainda procura terras porque tem parceiros no exterior interessados em investir em produtos certificados.
Nem a Gethal, a maior madeireira da Amazônia, consegue comprar mais áreas para manejo. – Contratamos a melhor banca de São Paulo para analisar os títulos das terras que queríamos e, mesmo assim, faltaram documentos, conta Carlos Alberto Guerreiro, representante dos investidores americanos que controlam a empresa. – A insegurança é um dos grandes empecilhos para o investimento sério na região, resume.
A lei de concessões florestais finalmente vai chegar ao Congresso. Se aprovada, ela permitirá que madeireiras façam exploração sustentável e certificada de áreas públicas, hoje entregues aos grileiros. Essa atividade deve gerar US$ 3 bilhões por ano e 500 mil empregos diretos.
Madeireiras legais e lucrativas não conseguem terra regularizada para comprar.
GETHAL
Faturamento anual: R$ 20 MILHÕES
Tem 40.000 hectares de floresta. Busca mais 100.000 hectares para investir nos próximos dez anos, mas não encontra nada.
JURUÁ FLORESTAL
Faturamento anual: R$ 21 MILHÕES
Procura uma floresta de 90.000 hectares há quatro anos. Já analisou 20 áreas, mas não encontrou nenhuma com papelada em ordem.
ECOLOG
Faturamento anual: NÃO DIVULGADO
Tem 30.000 hectares e quer mais 50.000. Em dois anos, avaliou 12 áreas no Pará, Amazonas e em Mato Grosso, sem aceitar nenhuma. (Época 21/2)