Ministros de meio ambiente debatem melhor controle para o mercúrio
2005-02-23
Em um encontro em Nairobi, na capital do Quênia, ministros de diversos países discutem as melhores formas de atacar o problema do controle do mercúrio, um dos poluentes mais agressivos e que mais se espalha pelo mundo. A reunião, no âmbito das Nações Unidas, foi proposta pela União Européia e por uma iniciativa de grupos norte-americanos.
A União Européia quer a definição de prazos para o banimento do uso do mercúrio, enquanto os Estados Unidos preferem a parceria entre indústrias e governos sem finalidades específicas nem prazos para a redução da demanda ou do abastecimento de mercúrio.
Em 2001, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) declarou que deveriam ser adotadas ações nacionais, regionais e globais, de longo prazo, para reduzir as emissões de mercúrio, um potente contaminante que contém neurotoxinas que contaminam peixes e outras formas de vida pelo mundo.
O encontro, realizado até esta sexta-feira (25/2), conta com a presença de cerca de cem ministros da área ambiental, de seis continentes. Ele irá decidir se deverá ser feito um acordo internacional relacionado às restrições acerca da compra, venda ou uso de mercúrio.
Em grandes mineradoras de ouro do Gana e em fábricas químicas da Louisiana (Estados Unidos), o mercúrio é tratado livremente como uma commodity do mercado mundial. A cada ano, cerca de 3,4 mil toneladas do metal são compradas para uso em processos industriais, especialmente na produção de cloro e em produtos como baterias.
O mercúrio é um elemento químico natural. Mas quando as indústrias o liberam para o ar, ele viaja por longas distâncias, contaminando oceanos, lagos e rios. A quantidade de mercúrio encontrada em um entre cada seis norte-americanos excede os níveis capazes de provocar danos neurológicos e ao desenvolvimento de fetos e crianças, segundo a Agência Norte-americana de Proteção Ambiental (EPA).
Diferentemente da maioria dos demais poluentes, o mercúrio é usado principalmente em países em desenvolvimento, não em países industrializados. A queima do carvão em plantas de geração térmica é a maior fonte de mercúrio nos Estados Unidos e no mundo. Mas restrições à indústria energética deverão ser deixadas para que cada nação as adote individualmente. O mercúrio também é utilizado em amálgamas dentários, mas, neste caso, não haverá deliberações quanto ao controle de seu uso.
Os tipos de indústrias que estão na mira do controle do mercúrio são as de produção de cloro, fabricação de baterias e mineração de ouro. Elas localizam-se na China, África, Brasil e Sudeste da Ásia, principalmente. Há também minas na Espanha, no Cazaquistão, na Argélia e na China.
– O mau gerenciamento do mercúrio em todos os lugares contamina a cadeia alimentar, afirma Linda Greer, diretora de organização sem fins lucrativos Conselho de Defesa dos Recursos Naturais. Segundo ela, o metal está escapando de fábricas químicas tecnologicamente defasadas na Índia, e pode rapidamente se espalhar, aparecendo, por exemplo, em peixes pescados nos Grandes Lagos norte-americanos.
Em um relatório do ano passado, a Comissão Européia, por meio de seu corpo executivo, concluiu que o mercúrio deveria ser considerado um caso especial de restrições comerciais porque não faz sentido para a Comissão Européia proteger o livre funcionamento do mercado de uma substância tóxica.
Em sua proposta às Nações Unidas, a União Européia afirma ter a disposição de banir todas as exportações de mercúrio até 2011, fechar suas plantas de mercúrio (unidades cloro-álcalis) e acabar com a mineração do produto. Ela quer que o resto do mundo também se comprometa com isto.
Mas a administração do presidente George W. Bush opõe-se a isto. Ao invés de ligar-se a um acordo com a União Européia, propõe a parceria entre indústrias ,governo e grupos de ambientalistas para a troca de informações sobre tecnologias livres de mercúrio e sobre melhores práticas de negócios.
Pelo menos dez países mostraram interesse na parceria para acabar com o mercúrio, sem os Estados Unidos. A UNEP quer a redação de uma diretiva que reúna os parceiros a fim de que seja viabilizado um acordo. A União Européia já propõs emendas a um possível acordo, comprometendo-se em fechar todas as plantas de cloro que utilizam mercúrio até 2020, restringir o uso de baterias de mercúrio até 2010 e reduzir o uso do metal em minas de ouro até 2007.
Segundo oficiais da UNEP, as nações em desenvolvimento devem se alinhar com a política de Bush para o mercúrio. Mas falta saber de que lado vão ficar o Japão, o Canadá e a Austrália – se do lado da Europa ou dos Estados Unidos.
Somente a indústria norte-americana utiliza em torno de 130 toneladas de mercúrio por ano. A maioria dos fabricantes de cloro, contudo, usa tecnologia livre de mercúrio. Mas mais de 135 plantas de cloro-álcalis usam mercúrio para a produção de vapores de mercúrio, incluindo nove nos Estados Unidos. A porta-voz da EPA, Cynthia Bergman, disse que os Estados Unidos já reduziram suas emissões em mais de 45% desde 1990. E, no mês de março, a EPA vai impor novas regras para controlar as emissões de mercúrio das plantas energéticas a carvão.