ONG da Califórnia encoraja luta de camponeses por recursos naturais
2005-02-23
Apesar da queda de braço ser sempre desfavorável aos mais pobres quando se trata do acesso a recursos naturais, existem organizações que, contrariamente Às multinacionais de países desenvolvidos, opõem-se à exploração dessas minorias.
–Tem sido fenomenal ver um movimento composto em grande parte por indígenas
e camponeses lutar e vencer, disse Deborah James, que dirige campanhas
contra os esforços de globalização liderados pelos americanos na Global
Exchange, um grupo de San Francisco, Califórnia (Estados Unidos) que apóia movimentos populares que lutam pelo controle do acesso e uso aos recursos naturais da regiões onde vivem. Segundo ela, –o que estamos vendo é uma enorme rejeição popular a companhias transnacionais controlarem serviços essenciais.
Outros, menos entusiásticos, vêem um preocupante grau de instabilidade
política e uma tempestade perfeita de incerteza no horizonte. –Você vê, em um país atrás do outro, que as linhas de batalha estão sendo traçadas em torno de questões envolvendo serviços públicos, disse Michael Shifter, um alto membro que acompanha os Andes para o grupo de política Diálogo Interamericano, em Washington.
–Isto gera um ressentimento e raiva tão grandes que coisas tão essenciais
para as pessoas, como água e luz, não estão sendo entregues de forma justa,
acrescentou ele. – Esta é uma fórmula para revolta que leva à mobilização, e
é o motivo para estarmos vendo uma região em convulsão.
Tal turbulência pode ser testemunhada em protestos e plebiscitos. No
Uruguai, um referendo bem-sucedido em outubro garantiu controle público
sobre os recursos de água, os transformando em um direito humano básico.
Na região do vale central do Chile, um plebiscito em 2000 resultou em 99,2%
dos eleitores rejeitando a privatização da companhia estatal de abastecimento de água, mas o governo a privatizou mesmo assim. Na Argentina, outra companhia francesa de abastecimento de água foi expulsa em 1998, enquanto o governo do Equador fracassou repetidas vezes em privatizar as companhias de eletricidade e telecomunicações.
No Peru, os protestos contra os planos de privatização das companhias de luz
têm sido persistentes, enquanto na Nicarágua e no México, mais ao norte,
ativistas têm combatido os planos de privatização das companhias de água.
A batalha em torno da Aguas del Illimani, que fornecia água para El Alto,
uma cidade de maioria indígena de 750 mil habitantes, é representativa da
revolta em torno da privatização, que muitos dizem nunca terem sido
consultados a respeito, mas que foi implementada como condição para
empréstimos do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional.
Na verdade, a Aguas del Illimani não foi a primeira empresa a experimentar a
revolta dos bolivianos. Em 2000, em meio a manifestações iradas, o Estado
anulou um contrato com a Bechtel, a multinacional com sede em San Francisco,
que dobrou as taxas cobradas após receber a concessão em Cochabamba.
Em 2003, diante dos crescentes protestos e instabilidade, um consórcio de
empresas decidiu pelo cancelamento de um projeto de gasoduto de US$ 5
bilhões para transporte de gás natural até o Pacífico, de onde seria
transportado para os Estados Unidos. Sob contínua pressão, o governo de Mesa agora está dando andamento a uma legislação que aumentará impostos e o controle do governo sobre projetos de energia na Bolívia.
Assim, o cenário estava armado para a revolta contra a Aguas, que derivou da
decisão de Mesa de elevar o preço subsidiado dos combustíveis em 30 de
dezembro, apesar de antes disso a empresa não parecer um alvo provável. (NY Times, 21/2)