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2005-02-21
Um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) chamado Conquista da Liberdade, em Piratini (interior do Rio Grande do Sul), tem tido sucesso com a agroecologia. Lá funciona a Cooperativa de Produção Agropecuária Vista Alegre (COOPAVA), na qual trabalham adeptos de um modelo de produção sustentável. Recentemente, dificuldades na comercialização da safra de pêssegos produzidos de forma ecológica acabaram lhes rendendo um bom negócio: uma parceria com o programa Fome Zero.

No ano passado, as indústrias que costumavam comprar os pêssegos da COOPAVA não venderam o que tinham em estoque. Ainda guardavam uma quantidade expressiva de produtos que não foram absorvidos pelo mercado e, por isso, não tiveram interesse em adquirir o que foi produzido no assentamento. Sem compradores e próximo de um prejuízo grave, a cooperativa encontrou a solução para o caso através de uma parceria com o governo federal. Pela primeira vez, a fábrica de doces Crochemore, de Pelotas, industrializou os pêssegos utilizando açúcar orgânico fabricado em São Paulo. Os produtos finais - 34 mil vidros de geléia e chimia - foram vendidos para o programa Fome Zero.

O assentamento criado há 13 anos possui uma área de 1.238 hectares, que pertencia à empresa Cicasul, falida e depois hipotecada. Agora, os planos da COOPAVA para o futuro incluem montar uma indústria de médio porte de doces e conservas, passando a plantar além do pêssego, amora e figo.

A experiência ecológica

No início, foram assentadas 50 famílias e todos trabalhavam em conjunto. Isso durou dois anos. Alguns optaram por sair do sistema de produção coletivo e restaram 29 famílias que formaram uma cooperativa em agosto de 1995. A COOPAVA - Cooperativa de Produção Agropecuária Vista Alegre Piratini – reúne hoje 28 famílias que trabalham em dois núcleos, um de produção animal e outro vegetal. Nos últimos três anos eles têm priorizado o cultivo do pêssego e a produção de leite, mas também plantam arroz, trigo, cebola e batata-doce para subsistência.

A formação da cooperativa permitiu maior organização do trabalho e também a capacitação dos agricultores para a implantação de técnicas agroecológicas no campo. A partir de 1997 eles abandonaram o uso de fertilizantes e herbicidas nos pomares de pêssego. Hoje a produção vegetal da cooperativa não leva produtos químicos. – Agora temos muito mais trabalho. Mas há diminuição do custo e é um modelo de produção que não destrói - explica Francisco Venâncio, 47 anos.

O rebanho da cooperativa é de 109 cabeças de gado leiteiro, 130 de gado de corte e 140 ovinos de corte. A produção de leite por dia é de 130 litros. No próprio assentamento funciona uma indústria de pasteurização. Lá o leite é embalado e depois vendido nas cidades vizinhas com a marca Terra Livre.

Em 2000, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) iniciou um projeto de pesquisa com o gado leiteiro no assentamento. No primeiro ano foram utilizados remédios convencionais para prevenir e tratar as doenças. A partir de 2001, usaram somente medicamentos alternativos, como ervas medicinais e homeopatias. A UFPel orientou e acompanhou os resultados da pesquisa. Entre as vantagens, estão a diminuição dos custos, pois são aproveitadas as ervas que já existem no local. A experiência deu certo e as técnicas aprendidas foram mantidas: – É muito difícil a gente comprar antibiótico para os animais. Rompemos com essa dependência - conta o pequeno produtor Marcelino Manauer, 33 anos, um dos coordenadores do Núcleo de Produção Animal da COOPAVA.

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