Seca obriga indústria a repensar captação de água
2005-02-17
As indústrias que sofrem com o racionamento de água estão buscando alternativas de captação para o abastecimento interno. As empresas passaram a utilizar a água da rede municipal ou estadual, reativaram poços artesianos, reduziram produção, reutilizaram a água ou mesmo instituíram circuitos fechados. Na fábrica da Aracruz Celulose, em Guaíba, a empresa enfrenta a maior seca desde que assumiu a Riocell, em 2003. Mas não há dificuldade no abastecimento, garante o gerente de processos industriais Humberto Baptista. — Nos preparamos ao longo do tempo para não haver dificuldade, conta Baptista. Entre as ações, foi implementado um programa de redução de consumo, que nos últimos quatro anos permitiu uma queda entre 30% e 40% do consumo de água.
Atualmente, a demanda média é de 16 mil m³ por hora (ou 16 milhões de litros por hora), e já chegou a 22 mil m³ por hora. Baptista ressalta que essa redução foi acompanhada do aumento de quase 100% da produção de celulose branqueada, principal produto da Aracruz. A empresa avaliou no início de janeiro que o nível de água do Guaíba estava muito baixo. Para evitar dificuldades na captação, a Aracruz decidiu reabrir uma adutora com capacidade de 10 mil m³ por hora construída em 1971 e que estava desativada desde 1982. Esta adutora serve de complemento à principal. Com essas medidas somadas ao aumento do nível de água do Guaíba, Baptista descarta qualquer dificuldade na produção.
Já na Oderich, a situação é diferente. O diretor industrial da empresa alimentícia, Claudio Oderich, explica que a captação de água no rio Caí está reduzida em 50% na unidade do município de São Sebastião do Caí. Normalmente, a fábrica utiliza de 120m3 a 150 m3 de água por hora. Esta queda já ocasiona problemas de processamento. — Limitamos a indústria para a produção agrícola, como milho e pepino. Outros que poderiam estar sendo produzidos simultaneamente, como carne e feijão e que demandam maior utilização de água, não estão sendo processados, lamenta o empresário.
Para reduzir o impacto do racionamento, a empresa está utilizando água da Corsan, além de recuperar o líquido de resfriamento. Também a estação de tratamento de efluentes, cujas obras seriam concluídas apenas na metade do ano, foi adiantada e na segunda-feira foi o primeiro dia de reutilização através do sistema fechado. — Esperamos chegar até o final da semana com 85% da água garantida, afirma Oderich, contando que nas unidades de Pelotas e de Eldorado do Sul não há problemas. Além das dificuldades no processamento, a indústria de alimentos – que também opera na produção primária - enfrenta até o momento uma quebra de 50% das culturas de verão. O índice pode ser ampliado se não voltar a chover em breve. Na lavoura de pepino, a perda é total, o que equivale a 500 toneladas do produto. No milho, metade dos 3 mil hectares plantados é irrigada, com perda em torno de 15%. Nos 50% restantes, a quebra é quase total. — O pessoal está em campo durante toda esta semana para fazer uma avaliação até sexta-feira, explica o diretor. A Oderich amplia as áreas de plantação irrigada a cada ano, através da produção integrada. — Este ano, a falta de chuvas está superando a expectativa, situação quase igual a 2004. O prejuízo é financeiro e comercial, em função do custo mais elevado, assinala. (Celulose Online, 16/2)