Organizar o conhecimento na área ambiental está se tornando decisivo
2005-02-16
Por Cláudia Viegas (Porto Alegre)
Pelo que estou começando a entender, o grande debate causado pela publicacão de um texto dos norte-americanos Michael Schellemberger e Ted Nordhaus (A Morte do Ambientalismo) é epistemológico. Afinal, qual é a natureza do conhecimento ambiental?
As informações se proliferam e, como em todo caso de divulgação científica, abrem-se verdades e verdades.
O que falta é uma espécie de questionamento profundo de qual
conhecimento forma constructos nesta área, qual tipo de conhecimento realmente vale a pena ser discutido. Este debate ainda é muito incipiente. Aqui no Brasil temos poucos pesquisadores nessa área. E nisso organizar o conhecimento na área ambiental está se tornando decisivo. Eu quero muito pesquisar o problema da interdisciplinaridade nos EIA/RIMA no doutorado que começo a cursar este ano.
Quais são os constructos que levam aos EIA-RIMA, de fato, e quais são aqueles que são simplesmente absorvidos e copiados dos modelos de manuais e guias e legislação existentes. Por que os profissionais começam por onde começam e como eles vêem a construção do conhecimento de quem trabalha com eles. Estas questões deveriam estar na ordem do dia até do
jornalismo sério, pois a notícia ambiental está banalizada, fala-se de tudo com muito pouco fundamento epistemológico.
A outra questão é saber como uma epistemologia do meio ambiente (proposta, pelo que sei, apenas por um pesquisador daqui, sem falar dos gurus do setor) poderia ser
uma espécie de teoria da ação prática, por assim dizer. Está excessivo o diálogo sobre meio ambiente, em especial sobre mudança climática. Quanto mais a fundo cientificamente se vai neste diálogo, mais se perde uma
unidade possível, menos se orienta o leitor. Eu nunca li matéria dizendo como eu, que ando a pé, posso reduzir o efeito estufa. O que o efeito estufa tem a ver comigo enquanto eu, causadora dele, e possível agente de prevenção. Ficamos no arsenal das informações jogadas, estudos daqui,
relatórios de lá. Mas a base disso tudo, a base de um conhecimento questionável e acionável, como fica?